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A Floresta queima, as Mulheres queiman: ecocidio e feminicidio possuem a mesma natureza.

Foto do escritor: Rita Machado Rita Machado

Por Rita de Cássia Fraga Machado

Professora de Filosofia e Ecofeminista.

Universidade do Estado do Amazonas - rmachado@uea.edu.br



Reprodução de direito da autora, em 21/08.


A mais de dois ano uma professora, na cidade de Tefé, foi queimada viva, não se surpreendam, o feminicidio foi cometido pelo se ex marido que até hoje não foi condenado. Deste então, observo como esses crimes de colocar fogo em mulheres virou corriqueiro em casos de violência contra mulheres, aqui não vou me deter a listar esses crimes, minha intenção é refletir como que parece normal ver a Floresta queimar sem qualquer incomodação profunda. A professora, assim como a floresta, os rios, os lagos, o ar sofrem genocídios e parece não acontecer nada, aliás, acontece, a flexibilização nas leis que deveriam proteger esses desastres, por sim, são desastres, são genocídios. Essa foi a definição da procuradora da República em Altamira Thais Santi em relação aos crimes de Altamira/PA.

Em tempo, acordamos com a notícia, nada nova para nós mulheres de que uma menina de 10 anos teria assassinado um bebê, ou seja, insanidade não explica para ouvir esses absurdos. Realmente o Brasil morreu, como afirma a colega e companheira Marlise Mato. O Brasil morreu!

A Floresta queima, as mulheres queimam perifericamente. Os criminosos que colocam fogo somem diante das tragédias que provocam afinal quem se interessa por esses territórios: mulheres, índios, povos tradicionais, sim, são esses que se interessam em manter a vida, a vida humana, e esses povos, incluindo as mulheres estão nas periferias das grandes cidades. Nossos corpos são tratados como periferia, e, portanto violentados, maltratados e hostilizados como a periferia, pois se imagina que tudo de ruim existe por lá. Imaginação estúpida e ignóbil. Em recente artigo Eliane Brum chamou a atenção para isso, para o periférico dos territórios devastados. “Essa é a angústia de quem luta pelo meio ambiente nesse centro do mundo que é tratado como periferia” e depois a jornalista completa “E, em seguida, esquecida”. Lígia, Mariana, Brumadinho, Altamira, todos periferia, todos explorados e massificados até a morte.

A permanência do patriarcado como estruturante das relações sociais de gênero permite que o corpo das mulheres, historicamente, pertença aos homens e ao Estado. Em sociedades patriarcais, como a nossa, a autonomia sobre nossos corpos ainda é uma luta central dos movimentos feministas. Aqui se agrega a luta ecológica, lutar pelas liberdades dos nossos corpos está condicionado, nas mulheres da floresta, à luta pela liberdade da natureza. Não me entendam mal, pois o que estou propondo como reflexão não é nenhuma ideia essencialista entre mulher e natureza, não é. A proposição é para que possamos pensar como enfrentar questões como essas e que estão atuais e emergentes ao pensamento-ético brasileiro. Rita Segato, ao questionar o que é o corpo da mulher, se pergunta: “Quem o declara nesse lugar? Quem assim o titula? São seus pares, os outros homens que o intitulam no “clube”. Eles possuem uma estrutura de clube, de confraria, de irmandade, de máfia. Enfim, essa é a estrutura da masculidade, e segue [...] é sobre o corpo feminino que ele vai mostrar, exibir que é portador de potência. Há uma afinidade direta do corpo feminino com a visão que temos de território” (Segato, 2010, p. 52). Há uma relação direta entre o corpo da mulher, a natureza e o patriarcado e é por intermédio da exploração e do uso da força cruel que ele, o homem, mostra a sua conquista.

Segato assim como outras tantas pensadoras nos ajudam a pensar e o agir no presente. Afinal, o que está acontecendo com a vida, com a nossa vida? Precisamos mesmo comer tanto agrotóxico, matar um rio inteiro e toda a biodiversidade que existia lá, é preciso queimar a floresta? Digam-me, por quê necessidade de tanta crueldade e terror com a floresta e com as mulheres?


Escrevam para mim, quero compartilhar essa dor.

...às mulheres, aos rios, ao ar, a nossa casa comum.


Tefé, Amazonas, em 13 de setembro de 2019. (Original)

São Leopoldo, 21 de Agosto de 2020, revisitado.


 
 
 

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