PAULA FURTADO GOULART (UNB)
Tese de doutorado
Orientador: Marcos Aurélio Fernandes
Data prevista de defesa: 03/03/2022
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As novas tecnologias da comunicação têm transformado o nosso modo de vida e, especialmente, a forma pela qual nos relacionamos e nos comunicamos. Este projeto de pesquisa tem como objetivo geral investigar os impactos das novas tecnologias de comunicação no diálogo e na lida com a alteridade, a partir da hermenêutica filosófica de Gadamer. O diálogo é a forma pela qual a linguagem, enquanto médium, entra em movimento. Em outras palavras, é no diálogo que linguagem se torna, efetivamente, uma força criativa que se sustenta das interações sociais. Além de ser o momento em que o mundo significativo pode emergir, o diálogo também é o momento em que há a oportunidade de se ampliar os horizontes de conhecimento dos interlocutores, por meio do contato com a alteridade e com o ponto de vista que ela tem a oferecer. Em outras palavras, o diálogo é o momento genuíno em que se cria a oportunidade de se ser modificado pelo o que o outro tem a dizer.
A alteridade é uma forma de termos acesso à verdade, a um conhecimento que antes não detínhamos. Nesse sentido, a alteridade é peça fundamental no conceito gadameriano de compreensão, tendo em vista que atua como uma instância de retificação ou de reiteração dos projetos de significado, isto é, dos horizontes individuais de compreensão. Em suma, o diálogo é um conceito relacional que interliga linguagem, alteridade e compreensão. Se mostra assim como uma categoria essencial para se pensar a hermenêutica filosófica de Gadamer, especialmente, em relação à comunicação.
Apesar de classicamente a hermenêutica ser a arte da interpretação, em última análise, é a reflexão de como compreendemos, isto, é de como comunicamos. As novas tecnologias da comunicação vêm se infiltrando em todos os âmbitos a vida. Educação, trabalho, lazer, alimentação, segurança, relacionamentos interpessoais, consumo: tudo passa por algum tipo de tecnologia nova. Não se trata apenas de mais uma tecnologia à nossa disposição: trata-se de uma forma de relacionamento que co-determina sujeito e objeto.
Em outras palavras, as novas tecnologias da comunicação modificam o nosso modo humano de viver. E isso parece ser um passo irretratável. Contudo, as novas tecnologias da comunicação, apesar de serem conhecidas por conectarem as pessoas, não propiciam, efetivamente, um momento dialogal autêntico, conforme a acepção gadameriana do termo. A rapidez e o acesso na troca de informações não significam propriamente comunicação. Na comunicação por meio das novas tecnologias da comunicação não há o constrangimento de estarmos perante outra presença, que nos faz tender a sermos mais educados e responsáveis no que dizemos.
Nas novas tecnologias da comunicação há sinais e imagens da presença ao invés da presença propriamente dita. É mais comum haver um monólogo público compartilhado ao invés do diálogo autêntico, em que deve haver a correspondência dialética entre o que se diz e o que se responde e em que deve haver a abertura para a alteridade. A tendência do digital, em verdade, é ao isolamento, o que acarreta não apenas a perda na quantidade de oportunidades para a interação presencial, mas também a perda na qualidade na comunicação, que ocorre seja no âmbito presencial, seja no âmbito digital. Ante todo o contraste entre a perspectiva gadameriana de diálogo e comunicação e o novo modo humano de se relacionar e de se comunicar, moldado pelas novas tecnologias da comunicação, esta pesquisa busca investigar os impactos e as consequências dessa nova forma de vida humana.
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