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A ÉTICA DA ALTERIDADE A PARTIR DE MARTIN BUBER E A VIVÊNCIA DOS INDIVÍDUOS NA SOCIEDADE NEOLIBERAL

Atualizado: 26 de set. de 2020

SUELLEN LIMA DE BRITO (UFPA)

Dissertação de mestrado

Data prevista para defesa: 14/02/2022



A pesquisa visa analisar como se dá a ética da alteridade proposta pelo filósofo Martin Buber (1878-1965), em sua obra principal intitulada Eu e Tu (1923), na qual apresenta as duas palavras-princípios que fundamentam nossa existência e são inerentes à condição humana, a saber: o Eu-Tu e o Eu-Isso, o primeiro apresenta-se como um relacionamento dialógico, um encontro entre dois sujeitos mutuamente, em caráter ontológico, e o segundo como um relacionamento monológico, baseado em experiências e na utilização de indivíduos como meros objetos, com um caráter objetivante. O mundo é duplo para o homem, pois ele vive entre essas dualidades em seu ser, o homem profere as palavras-princípios em sua vida de acordo com a relação que deseja estabelecer. É de sua inteira responsabilidade a escolha sobre a relação que irá ocorrer. Diante disso, o mundo do Isso, se invadir e orientar as formas dos homens relacionarem-se, leva-os à perdição.


Apesar de todos os indivíduos possuírem a necessidade do diálogo, de uma relação verdadeira, é notável que os homens estejam gradativamente imersos em seu próprio ego e sucumbindo ao mundo do Isso. Uma vez que essas palavras-princípios são inerentes aos homens e agem como duas consciências vivas em seu ser, é necessário haver um equilíbrio entre elas para que a vivência do indivíduo não se desestabilize. No entanto, o que ocorre de fato é justamente o desequilíbrio a favor do Isso sobre o Tu, que constitui a mais prejudicial maneira de desequilíbrio. O homem mais frágil socialmente é aquele cujas relações em sua maioria dão-se de maneira objetivante, e é nesse homem que Buber e outros autores contemporâneos debruçaram-se, a fim de explicitar por meio de análises categóricas como esse nível de impessoalidade edificou-se.


Nosso objetivo é compreender as esferas da ética da alteridade, o quanto estamos nos desvinculando drasticamente das relações interpessoais e como a subjetividade está sendo alienada e subvertida pelo sistema econômico da sociedade ocidental, o neoliberalismo, que modifica as raízes de como nos relacionamos uns com os outros. Mas especificamente, pretende-se discutir e compreender o processo de transformação, que ocorre etapa a etapa. Esse processo é gradual, de modo que quando a transformação está estabelecida aqueles que não se deram conta das estratégias veladas de cada etapa, surpreendem-se e, por conta disso, encaram-na como algo espontâneo e avassalador.


É possível afirmar que o mundo do Isso preconizado por Buber tornou-se vigente no contexto da era neoliberal. Pois, nesse contexto, observa-se a coisificação - mercantilização das relações em nome do sucesso do capital - onde sujeitos são explorados e instigados a estabelecer relações monológicas, além de viver em ambientes permeados pela semente da competição, aprofundando o individualismo contemporâneo sucumbindo em seu interior ao mundo do Isso, o que resulta em vazio e desamparo. A sociedade neoliberal objetifica os sujeitos retirando sua humanidade, transformando-os em meras “peças” a serem encaixadas na roda do capital para a obtenção de lucro, desmantelando o ser humano de maneira epistemológica, social, econômica e cultural, subvertendo-o a um capital humano de interesses que é, além de tudo, cooperativo (consciente e inconscientemente) para a manutenção do sistema. Desse sistema emanam diversos ataques à esfera social e efeitos dramáticos na vivência dos sujeitos, que tratam-se de uma nova ‘roupagem’ para mais um modo de controle sobre a vida dos governados.


O sujeito inserido no sistema neoliberal vive apenas relações coisificadas, mercantilizadas, onde não ocorre o encontro atual entre homens baseado em mutualidade, ao contrário, o contato é instrumentalizado, programado e em níveis que, de certa forma, ocorrem como o sistema deseja que aconteça. Assim, o capital aproveita-se da nossa distração e competição uns com os outros para continuar se reproduzindo e subverter nossa liberdade individual em seu produto. Portanto, o regime neoliberal é dado pelo esgotamento da psique.


Diante disso, é necessário ao indivíduo livrar-se das amarras do individualismo instigado e legitimado pelo sistema econômico, a fim de restabelecer a ética da alteridade e as relações autênticas da presença do Tu, restabelecendo assim o equilíbrio entre o mundo do Tu e do Isso, para uma vivência saudável. Isso, no entanto, não será de fácil resolução, pois como iremos aprofundar neste estudo, o poder psicológico de controle na era neoliberal é de natureza estratégica alienando o sujeito em sua essência e na percepção de si, transformando-o nesse capital humano e na ‘peça’ que se encaixa em uma engrenagem. Resta-nos, então, permanecer em alerta, redirecionar nosso espírito de volta a alteridade, procurar a saída dentro desse poder do sistema e resistir à coisificação e desumanização vigente.


BUBER, Martin. Eu e Tu. Tradução do alemão, introdução e notas por Newton Aquiles Von Zuben. São Paulo: Centauro, 2001.



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As informações sobre a pesquisa e a imagem divulgadas são de responsabilidade da autora da pesquisa.



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