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Foto do escritorMaria Cristina Longo

Coronavirus in Brazil: anticapitalist reflections

Atualizado: 23 de set. de 2020

According to Karl Marx, in the last chapter of Capital- Volume one, capital is a relation, it is not a thing, it is a certain specific type of relation, intermediated by things[1]. Capital is a relation of exploitation in which holders of means of production employ people who have nothing but their labor power to sell in the market. In the capital relation, workers always produce a good of greater value than his own salary, appropriated by capitalists. Silvia Federici expands this vision, going back to primitive accumulation of capital. For the author, capital is built as a system of class, race and gender oppressions (among others). Beyond exploitation of salary, capitalism is established to make profit no matter how, and it includes gender and race oppressions. Gender oppression was formed as a result of a new sexual division of labor built during primitive accumulation. According to this division women bodies should be controlled by state and men mainly for reproduction and care of workforce. Myth of femininity is inside this. On the other hand, racism was created together with slavery of black and indigenous people. That was implemented including in legislation which conferred white supremacy against black people. Those divisions inside workforce are very interesting for capitalists and constitute this mode of production.

Describing a bit political context before Coronavirus in Brazil. Bolsonaro’s election in 2018 was a real drama in Brazil. There are a lot of reasons which motivated people vote for Bolsonaro. First reason was disappointment of many with Labor Party, involved in several corruption scandals. Some people were truly against corruption, but others were expecting an opportunity to be against labor party since they hated (and here the word is hate) affirmative and inclusive polices. Some of those people hated the fact real wages were higher and their domestic employees were too expensive, they hated the fact they were taking flights, for instance, with poor people and hated affirmative and inclusive polices, such as racial quotas in public universities. Another number of people who voted for Bolsonaro were very religious (here it is important to notice many religious leaders were in campaign for Bolsonaro). Several people in Brazil are religious, many of them have such a hard life that religion is a scape. Others who voted for Bolsonaro were ultra-conservative people, we could say fascists, with a mix of hate against institutional policy and corruption, love for nationality, for patriarchal family, intolerance and aggressiveness against opposition.

It is remarkable to point out Brazil has a horrible history of colonial past based on slavery, torture and genocide, we could say holocaust of indigenous and black people. Our Republic seems to continue this history, once black people in Brazil keep being victim of constant human rights violations, executions and imprisonments (There are more than 40.000 murders in Brazil per year, the majority black, male and poor). Every 23 minutes a black person is murdered in Brazil[2].

Conduction of Coronavirus crises by Bolsonaro has been chaotic. He is contrary to social isolation recommended by World Health Organization. His official speech is this virus is a "little flu" and we should not stop economy, once there will be more people dying due to unemployment. Then, he openly defends the end of people isolation, even though some will die, because he says economy and employment are more important. His speech against World Health Organization has made him lose a lot of his political support, but he has recovered it due to government aid to unemployed people. This help was not planned by Bolsonaro, but was made mainly by congress. Nevertheless, Bolsonaro has gained fame among poor people. So, beyond ultra-conservative people who think economy must not stop due to the virus, even though some will die, some poor people are supporting him because of government aid.

Although history of Brazil is one of continuous violation of institutional laws, they seem to be violated faster since Dilma's impeachment in 2016 (taking period from the end of military dictatorship till now). We don't know what can take place in Brazil, considering many military in power through Bolsonaro, a huge economic crises, massive unemployment and an incredible high number of deaths due to coronavirus.

Taking in account Marx and Silvia Federicis’s thoughts, capital is many oppression relations such as class, race and gender. Fascism or Nazism is just its worst face.

If we are inside a system of oppressions named capitalism, it seems human life is not the goal of system, on the contrary, profits no matter how are system target.

This combination of oppressions named capital seems to demand a united response of all oppressed people, nevertheless, it is not easy to build.

Although Bolsonaro has 38% of support[3], there are at least 30 impeachment requests in Congress, national and international manifests against him, but the most inspiring manifestations came from streets where organized football fans, the majority black and poor, were risk their lives to defend the rest of democracy we have.

Those examples of struggles seem to be an exit to build an united and international fight against system of oppressions named capitalism.

[1]Marx, 1867, p.543: “First of all, Wakefield discovered that in the Colonies, property in money, means of subsistence, machines, and other means of production, does not as yet stamp a man as a capitalist if there be wanting the correlative – the wage-worker, the other man who is compelled to sell himself of his own free will. He discovered that capital is not a thing, but a social relation between persons, established by the instrumentality of things”. [2]Ribeiro, Djamila, 2019, p.94. [3]https://exame.cm/brasil/exame-ideia-aprovacao-de-bolsonaro-segue-em-38/

Coronavírus no Brasil: reflexões anticapitalistas

Tradução de Márcia Fontes (mestre em filosofia pela Unicamp e doutoranda em filosofia pela UFRN).

Revisão de Daniel Santos.

De acordo com o que Karl Marx nos mostra no último capítulo d’O Capital -Livro 1, o capital não é uma coisa, é uma relação, um tipo específico de relação intermediada por coisas[1]. O capital é uma relação de exploração em que os detentores dos meios de produção empregam pessoas que não têm nada além de sua força de trabalho para vender no mercado. Na relação de capital, os trabalhadores sempre produzem um bem de valor superior ao seu próprio salário, que é apropriado pelos capitalistas. Silvia Federici expande esta visão voltando ao processo de acumulação primitiva de capital. Para a autora, o capital é estruturado como um sistema de opressões de classe, raça e gênero (entre outras). Além da exploração do salário, o capitalismo é estabelecido para obter lucro, não importa como, e isto inclui opressões de gênero e raça. A opressão de gênero foi formada como resultado de uma nova divisão sexual do trabalho construída durante a acumulação primitiva. De acordo com esta divisão, os corpos das mulheres deveriam ser controlados pelo Estado e pelos homens principalmente para a reprodução e cuidado da força de trabalho. O mito da feminilidade foi forjado a partir desse processo. Por outro lado, o racismo foi criado juntamente com a escravidão de pessoas negras e indígenas, sendo implementado, inclusive, na legislação que conferia supremacia aos brancos e brancas contra negros e negras. Essas divisões dentro da força de trabalho são muito interessantes para os capitalistas e são constitutivas desse modo de produção.

Descrevendo um pouco o contexto político no Brasil antes do novo Coronavírus: A eleição de Bolsonaro em 2018 foi um verdadeiro drama no Brasil. Foram muitas as razões que motivaram as pessoas a votar em Bolsonaro. O primeiro motivo foi a decepção de muitos com o Partido dos Trabalhadores, envolvido em vários escândalos de corrupção. Algumas pessoas eram verdadeiramente contra a corrupção, mas outras esperavam uma oportunidade para “livrarem-se” do Partido dos Trabalhadores, pois odiavam (e aqui a palavra é ódio) políticas afirmativas e inclusivas. Algumas dessas pessoas odiavam o fato de os salários reais terem ficado mais altos e o trabalho das empregadas domésticas ter se tornado mais caro, odiavam o fato de pessoas pobres, por exemplo, agora poderem andar de avião e odiavam políticas afirmativas e inclusivas, como as cotas raciais nas universidades públicas. Outro contingente de pessoas que votou em Bolsonaro era composto de religiosos (aqui é importante notar que muitos líderes religiosos fizeram campanha em prol de Bolsonaro). Muitas pessoas no Brasil são religiosas, muitas delas têm uma vida tão difícil que a religião lhes serve como uma fuga. Outros que votaram em Bolsonaro eram ultraconservadores, poderíamos dizer fascistas, com uma mistura de ódio contra a política institucional e corrupção, amor pela nacionalidade, pela família patriarcal, intolerância e agressividade contra a oposição.

É importante apontar que o Brasil tem uma história horrível de um passado colonial baseado na escravidão, tortura e genocídio, poderíamos dizer, um holocausto de pessoas indígenas e negras. Nossa República parece dar continuidade a essa história, uma vez que pessoas negras no Brasil continuam sendo vítimas de constantes violações de direitos humanos, execuções e prisões (São mais de 40.000 assassinatos no Brasil por ano, a maioria composta de negros, homens e pobres). A cada 23 minutos uma pessoa negra é assassinada no Brasil[2].

A condução da crise do Coronavírus pelo governo Bolsonaro tem sido caótica. Ele manifestou-se contrário ao isolamento social recomendado pela Organização Mundial de Saúde. Seu discurso oficial é que esse vírus é uma "gripezinha" e não devemos parar a economia, pois haverá mais gente morrendo por causa do desemprego. Ademais, ele defendeu abertamente que as pessoas saíssem do isolamento, mesmo que isso as colocasse sob risco de vida, porque, segundo ele, a economia e o emprego são mais importantes. Seu discurso contra a Organização Mundial da Saúde o fez perder muito de seu apoio político, mas ele o recuperou devido ao auxílio financeiro do governo prestado aos desempregados. Tal auxílio, no entanto, não foi planejado pelo governo Bolsonaro, mas foi feito principalmente pelo Congresso. Porém, Bolsonaro ganhou fama entre pessoas pobres. Portanto, além dos ultraconservadores que acham que a economia não deve parar por causa do vírus, mesmo que alguns morram, pessoas de baixa renda o estão apoiando por causa do auxílio financeiro recebido pelo governo.

Embora a história do Brasil seja de contínua violação das leis institucionais, elas parecem estar sendo infringidas mais rapidamente desde o impeachment de Dilma em 2016 (levando em consideração o período desde o fim da ditadura militar até agora). Não sabemos o que pode acontecer no Brasil, considerando a ampla presença de militares no poder através de Bolsonaro, uma enorme crise econômica, desemprego em massa e um grande número de mortes devido ao novo coronavírus.

Levando em conta o pensamento de Marx e de Silvia Federici, o capital é uma relação que estrutura opressões como as de classe, raça e gênero. O fascismo ou nazismo é apenas sua pior face. Se estamos dentro de um sistema de opressões denominado capitalismo, parece que a vida humana não é a meta do sistema, pelo contrário, os lucros é que são o seu alvo. Esta combinação de opressões denominada capital parece exigir uma resposta unida de todos os oprimidos e oprimidas, ainda que construí-la não seja uma tarefa fácil.

Embora Bolsonaro tenha 38% de apoio [3], há pelo menos 30 pedidos de impeachment no Congresso e manifestos nacionais e internacionais contra ele. Mas as manifestações mais inspiradoras vieram das ruas, onde torcedores organizados de futebol, em sua maioria negros e pobres, arriscaram suas vidas para defender o resto de democracia que temos. Estes exemplos parecem ser uma saída para construirmos uma luta unida e internacional contra o sistema de opressões denominado capitalismo.

[1]Marx, 1867, p.543: “Inicialmente, Wakefield descobriu nas Colônias que a propriedade de dinheiro, meios de subsistência, máquinas e outros meios de produção ainda não caracterizam um homem como capitalista se lhe falta um complemento – o trabalhador assalariado, o outro homem que é obrigado a se vender por sua própria vontade. Ele descobriu que o capital não é uma coisa, mas uma relação social entre pessoas, intermediada por coisas”.

[3]https://exame.cm/brasil/exame-ideia-aprovacao-de-bolsonaro-segue-em-38/



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