Nísia Floresta (1810-1885) é sem dúvida uma filósofa brasileira. Autodidata, escreveu diversas obras traduzidas para diferentes idiomas. Defendia a capacidade racional das mulheres, deixando explicitado em seus escritos um ideário de emancipação feminina de oposição ao patriarcado.
Em um ambiente que negava a atuação civil das mulheres, Floresta conseguiu perturbar algumas pessoas, desestabilizar alguns discursos e até nossos dias nos surpreende com a magnitude de suas reflexões e sua atuação como intelectual numa época em que as mulheres não tinham acesso a uma educação no Brasil, que as incentivassem à ocupar espaços públicos e atuar na sociedade.
Floresta também é um marco na história do pensamento pedagógico brasileiro, na medida em que colocou na pauta dos problemas sociais brasileiros, a problemática da educação das meninas. Na filosofia de educação nisiana, fica claro que ela acreditava que o acesso à educação serviria para que os homens reprovassem menos as mulheres, e elas ocupassem melhores cargos, e que o progresso da humanidade estaria ligado à educação das mulheres.
Os homens não podendo negar que nós somos criaturas racionais, querem provar-nos a sua opinião absurda, e os tratamentos injustos que recebemos, por uma condescendência cega às suas vontades; eu espero, entretanto, que as mulheres de bom senso se empenharão em fazer conhecer que elas merecem um melhor tratamento e não se submeterão servilmente a um orgulho tão mal fundado (FLORESTA, 1989. p.41).
A partir de sete de suas obras foi possível compreender e escrever uma tese que apresenta o pensamento filosófico de Nísia Floresta, do ponto de vista educacional. As obras Máximas e Pensamentos (1842); Conselhos à minha filha (1842); Discurso que às suas educandas dirigiu Nísia Floresta Brasileira Augusta (1847); Fany ou o modelo das donzelas (1847); Opúsculo Humanitário (1853); A Mulher (1859) e Um passeio ao Jardim de Luxemburgo, nos ajudam a compreendem sua concepção de educação, bem como seu pensamento filosófico.
Podemos dizer que a proposta educacional de Nísia Floresta possui uma relação intrínseca com o progresso social, pois essa pensadora acreditava no papel social das mulheres e no exercício de sua cidadania. Floresta (1997) colocava a mulher na condição de ser capaz de melhorar a sociedade, com a simples prática de suas virtudes. Estando a família bem estruturada, haveria progresso na sociedade. Essa “melhoria social” se daria a partir do seu papel de mãe virtuosa e “matrona esclarecida” e porque as mulheres influenciariam seus homens e filhos (as) a terem uma vida também virtuosa.
Além de realizar importantes críticas ao ensino da época, bem como a forma que as escolas eram pensadas e administradas, sua filosofia da educação, foi também pautada nas virtudes morais que Nísia acreditava ser importante para as meninas e mulheres, e que ela ensinava para sua filha e para suas educandas.
Floresta defendia a capacidade racional das mulheres. Seus escritos tem ideário de emancipação feminina de oposição ao patriarcado. Num ambiente que negava a atuação civil das mulheres, ela conseguiu perturbar algumas pessoas, desestabilizar alguns discursos machistas e patriarcais.
Até hoje só se tem tratado superficialmente da diferença dos dois sexos. Todavia os homens arrastados pelo costume, prejuízo e interesse, sempre tiveram muita certeza em decidir a seu favor, porque a posse os colocava em estado de exercer a violência em lugar da justiça, e os homens de nosso tempo guiados por este exemplo, tomaram a mesma liberdade sem mais algum exame, em vez de (para julgar cordatamente se seu sexo recebeu da Natureza alguma preeminência real sobre o nosso) se terem despido inteiramente da parcialidade e interesse, e não se apoiarem sobre os “assim dizem”, em lugar da razão, principalmente sendo autores e ao mesmo tempo parte interessada (FLORESTA, 1989, p. 30).
Floresta é um marco na história do pensamento filosófico e pedagógico brasileiro, na medida em que colocou na pauta dos problemas sociais brasileiros, a problemática da educação das meninas. O acesso à educação serviria, entre outras coisas, para que os homens reprovassem menos as mulheres, e elas ocupassem melhores cargos.
Enquanto publicava obras de cunho reivindicatório, ela desejava a melhoria da educação das meninas. A menina se tornaria esclarecida, e aproveitaria os seus dons, a sua inteligência.
Para conhecer mais o pensamento de Nísia, além de ler suas obras e realizar uma densa pesquisa histórico-bibligráfica, investigou-se acervos públicos e privados de biógrafas/os e pesquisadores/as e estudiosos/as dessa pensadora do século XIX, bem como os relatórios e falas presidenciais da Província (1835-1976); mensagens dos presidentes e Governadores do RS (1835-1976), acervos de academias literárias, a Constituição de Leis do Império do Brasil (Acervo Câmara); Cartas de Nísia com Augusto Comte (Publicada por Constância Duarte/ Editora Mulheres); Certidões (Certidão de Batismo de Augusto Américo-1834); Certidão de óbito de Manoel Augusto; Correspondências ativas e passivas dos encarregados de estatística (1827-1853)- Arquivo Histórico do RGS; Documentos no Arquivo Histórico do RN; Arquivo Histórico do RS (Guia de acervo e inventário sumário dos códices); Acervo Memorial da Mulher (centro de referência, documentação e memória (Zelma Furtado), Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul- (Mapas e documentos de 1840-1985 (1ª Planta da Cidade de Porto Alegre)...
A Filosofia de Educação Nisiana dialoga com algumas ideias de Augusto Comte, especialmente da valorização das mulheres e o papel das mães. Assim, foi necessário conhecer e estudar sobre história do positivismo e a história do positivismo no Brasil, dialogando com obras sobre História da Educação e sobre história das mulheres nas letras, na educação e na Filosofia.
Além dos acervos de biógrafos/as, como Roberto Seidl (1933); Adauto Câmara (1941); Zélia Maria Bezerra Mariz (1982); Maria Simonetti Grilo (1989); e Constância Duarte, os estudos de mulheres, bem como os estudos feministas contribuíram para fundamentarmos UMA FILOSOFIA DE EDUCAÇÃO NISIANA.
Floresta percebia a ciência como o dever das mulheres, para assim influenciarem a humanidade. Ela deixou claro que era, pela ciência, que se conseguia a exatidão do pensamento, a pureza da expressão, a justeza das ações.
É um grande absurdo pretender que as ciências são inúteis às mulheres, pela razão de que elas são excluídas dos cargos públicos, único fim a que os homens se aplicam. A virtude e a felicidade são tão indispensáveis na vida privada, como na pública, e a ciência é um meio necessário para se alcançar uma e outra. ‘Entretanto, não será difícil provar que o conhecimento de nós mesmas e de outras coisas é absolutamente necessário para aumentar-nos a persuasão de nossas obrigações morais’ (FLORESTA, 1989, p. 51, grifo nosso).
Buscou-se conhecer mais sobre as escolas fundadas por Nísia Floresta, pesquisando mapas e outros documentos arquitetônicos, como o Mapa arquitetal da cidade do RJ (Acervo pessoal de Constância Duarte), a planta comercial de Porto Alegre, localizada no Instituto histórico do RGS. Foram realizadas entrevistas com integrantes das Academias de letras (RS e RN), bem como leituras e pesquisas de Palestras, Jornais da época e Revistas.
Impossível pesquisar sobre essa pensadora do século XIX sem viajar para sua cidade Natal, hoje chamada de Nísia Floresta/RS. Lá, além de banhar nas águas quentes e claras do Nordeste brasileiro, e ser acolhida por seus/suas conterrâneos potiguar, foi possível conhecer a Igreja MATRIZ Nossa Senhora do Ó, bem como o Monsoléu de Nísia Floresta, e os acervos pessoais de pesquisadores/as.
DUARTE, Constância Lima. A propósito deste livro. In: AUGUSTA, Nísia Floresta Brasileira. Direitos das mulheres e injustiça dos homens. Introdução e notas Constância Lima Duarte. São Paulo: Cortez, 1989. p. 15-20.
______. A tradução. In: AUGUSTA, Nísia Floresta Brasileira. Direitos das mulheres e injustiça dos homens. Introdução e notas Constância Lima Duarte. São Paulo: Cortez, 1989b. p. 107-134.
FLORESTA, Nísia. Opúsculo humanitário. Introdução e Notas de Peggy-Sharpe. São Paulo: Cortez, 1989.
______. Direitos das mulheres e injustiça dos homens. Introdução e Notas de Constância Lima Duarte. São Paulo: Cortez, 1989b.
Quer saber mais?
Acompanhe hoje, dia 23 de outubro, às 20 horas o instagram de @aminasouza
Comentários