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O TEATRO DE SITUAÇÕES DE SARTRE ENQUANTO POSSIBILIDADE METODOLÓGICA PARA O ENSINO DE FILOSOFIA

NEUZA FERREIRA RODRIGUES (PROF-FILO/UFCG)

Dissertação de Mestrado

Orientador: Ricardo Leon Lopes

Data prevista de defesa: 24/06/2022



Fonte da imagem: https://medium.com/teatro-do-mundo/fran%C3%A7a-as-moscas-de-jean-paul-sartre-bb022b78376a.


Este trabalho de dissertação emerge diante da realidade de desinteresse que surge no cotidiano da sala de aula em relação aos conhecimentos filosóficos, uma apatia que incide no convite à reflexão. O apontado desinteresse se manifesta seja por um estranhamento que parte daqueles que entram em contato com a filosofia pela primeira vez, seja por parte daqueles que esmaecem a uma participação mais ativa, não sustentando a postura inquietante do questionar, a experiência do filosofar. Frente a esse cenário, a proposta de intervenção a ser apresentada recorre ao existencialismo sartriano com o intuito de fazer um entrelaçamento da sua filosofia com o seu teatro de situações, visando à construção de uma prática propositiva voltada ao ensino de Filosofia no Ensino Médio.


Nesse sentido, o uso do teatro como recurso metodológico para intentar o fomento ao filosofar será feito a partir da obra As Moscas (1943). Como tantas outras obras teatrais de Sartre, essa peça é um campo fértil para se discutir traços do seu pensamento filosófico, sendo possível a partir dela explorar três recortes conceituais: a liberdade, o engajamento e a responsabilidade. Os três conceitos se presentificam como elementos que podem contribuir para a formação do\da discente, formação essa que surge diante do diálogo destes pontos com algumas das finalidades a serem alcançadas pelo ensino no Ensino Médio – definidas tanto pela Lei de Diretrizes e Bases quanto pela Base Nacional Comum Curricular. Em outras palavras, ao se discutir a liberdade, segundo o pensamento sartriano, essa investigação teórico-prática possibilita que o discente problematize e compreenda a sua própria autonomia enquanto sujeito, enquanto ser que não tem definições prévias, que é livre para se fazer existencialmente. Esse conceito basilar da teoria sartriana serve de sustentáculo para os dois outros na medida em que eles se mantêm imbricados. Assim sendo, ao dizer que o homem é livre para construir o seu projeto existencial no mundo, há uma implicação para além da sua autonomia, já que essa compreensão também se apresenta como uma defesa à ação, ponto de encontro com o engajamento. É através da abordagem do engajamento que esse ponto da investigação busca provocar o discente a se enxergar como um sujeito que tem um pensamento crítico e que se ocupa com a sua ação no mundo, pois a construção de si não pode ser delegada a outrem. Desse modo, ser livre e pensar sobre a sua ação no mundo é um pensamento que mantém estreita relação com a responsabilidade. Assim, discutir a visão filosófica de Sartre a respeito da responsabilidade tem como contribuição um pensar que ultrapassa a individualidade, posto que a ação de cada indivíduo serve de espelho para toda a humanidade, sendo essa uma discussão que permeia os caminhos da cidadania.


Partindo desse tripé, este ensino filosófico faz a aposta de convidar o discente a pensar em temas\problemas que dizem respeito à própria existência humana frente às escolhas feitas pelos personagens, a exemplo de Orestes, Electra, Clitemnestra e Egisto. Por se tratar de um trabalho teórico-prático, ele apresenta em um segundo momento a sequência didático-filosófica a ser desenvolvida a partir da oficina filosófico-teatral, na qual a sala de aula é compreendida como um laboratório de estudo, de interpretação e de performance, um percurso que tem como finalidade desembocar no filosofar. A primeira etapa da oficina é teórica, uma vez que diz respeito à apresentação dos conceitos filosóficos a serem estudados; a segunda etapa parte se ocupa da apresentação do contexto histórico da peça teatral escolhida, pois é compreendido como primordial ter o conhecimento do que motivou Sartre a escrevê-la, evidenciando-se, nessa etapa, as diferenças entre a versão sartriana frente à versão da tragédia grega de Ésquilo e investigando os significantes opostos de liberdade versus destino. Dado o encaminhamento teórico e histórico, a terceira etapa seria a de leitura e performance da peça.


As Moscas é uma peça composta por três atos, sendo eles divididos em temáticas, cujo direcionamento visa facilitar a localização dos conceitos na obra. O primeiro ato é discutido sob o prisma da crítica de Sartre à resignação dos franceses durante a Segunda Guerra, uma etapa que toma como base a contextualização histórica do filósofo; no segundo ato será explorada a questão do engajamento e da responsabilidade na conduta humana; e o terceiro ato foi reservado para a discussão da liberdade humana. Este é um trabalho de cunho fenomenológico, na medida em que investiga a aparição do filosofar (o fenômeno) quando suscitado a se revelar em sala de aula a partir das passagens da peça, das situações emprestadas pelos personagens e possivelmente vividas de modo simbólico pelos discentes. Quanto ao tipo de pesquisa, ela se configura como uma pesquisa-ação, de cunho intervencionista, na qual os próprios participantes, serão os agentes da transformação do problema a ser enfrentado. Por fim, a atuação da professora pesquisadora é equivalente à atuação de uma mediadora, tendo como trabalho o ato de tecer costuras entre as situações encenadas e os conceitos sartrianos, direcionando aos discentes uma provocação do pensar passível de se realizar no instante em que estes façam o aceite do convite ao filosofar.


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