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Por que precisamos falar de Feminismo na Universidade? Xô Machsimo Epistêmico!

Dra. Rita de Cássia Fraga Machado

Líder do Grupo de Pesquisa e Extensão_CNPQ as Manas CEST/UEA

Militante da Marcha Mundial das Mulheres/Brasil.

Professora de Filosofia

Todos devemos ser feministas. ChimamandaNgoziAdichie

(que essa ideiaadapte-se a ciência)

A frase com a qual iniciamos este texto, da escritora e feminista nigeriana Chimamanda Adichie, é ao mesmo tempo polêmica e esclarecedora. No livro “Todos devemos ser feministas”, ela defende uma sociedade em que todos devemos ser feministas, nos provocando a refletir sobre o “todos” e sobre o conceito de “feminismo”. Nossa proposta com essa reflexão é a de trazer para o debate a possibilidade de um pro feminismo exercido pelos homens, mas, antes dessa proposição, é necessário entender o que é feminismo.

Estamos vivendo tempos violentos: ataques terroristas, confrontos por questões raciais, de classe e de gênero. Todos os dias nos chegam notícias de violência contra mulheres e casos de feminicidio. Por isso, falar de feminismo não é uma piada engraçada, pois o machismo violenta e mata mulheres diariamente. Particularmente, estou muito preocupada com a maneira como estão se formando os discursos, principalmente na Universidade. Porque feminismo não é somente um discurso, feminismo é prática. Toda feminista carrega por trás de seu discurso uma luta, um desejo de transformação da sociedade, e, sendo assim, feminismo é teoria e prática, e precisamos entender isso. Eu, por exemplo, luto por educação cientifica para as mulheres, ou seja, para que todas nós possamos ter a escola, a universidade, isto é, a formação escolar, acadêmica e profissional como parte essencial de suas vidas. Não nascemos somente para casar, nascemos, principalmente, para nos tornamos mulheres e homens, e isso se constrói com educação. Imaginem se é justo que só os homens possam ter oportunidade de estudar? É justo que hoje no mundo ainda tenham 600 mil meninas fora na escola? É justo que os homens ainda recebam maiores salários e estarem em lugares de poder e privilégio que as mulheres não ocupam? Não, não é. E feminismo é isso, lutar por igualdade. Igualdade na política, igualdade de educação, salários, etc. E, para isso, precisamos continuar mudando a nossa história.

Quando nos dizem que as mulheres hoje são maioria nos cursos de pós graduação, nas Universidades e que, por isso, a história mudou, eu, como mulher, pesquisadora e feminista “creio” que esse discurso se deve a uma falta de conhecimento da história. As mulheres sempre foram maioria, e é errado pensar que nós mulheres não estivemos nos espaços. Estivemos, mas sempre de forma rara, silenciadas e invisibilizada, até hoje. Se nós pegarmos os números de mulheres com bolsa produtividades no CNPQ, números de citações na Scielo e número de referências em ementas universitárias, vamos novamente perceber que estamos lá, mas ainda de forma tímida, para não dizer invisíveis.

Estou bastante preocupada com o momento atual. Entretanto, ao mesmo tempo presencio o nascimento de consciências coletivas sobre nossa emancipação e a sua importância, homens e mulheres mais sensibilizados para essa questão; vejo estudantes se posicionando contra o sexismo, desafiando as estruturas machistas, racistas e homofóbicas lutando por seus direitos. Isso me alegra e me faz novamente reforçar que a educação, a nossa educação, a educação das mulheres é a minha luta e deve ser de a todas nós. E, aos homens, cabe a eles entenderem seu lugar de privilégio e desistirem de tais lugares para que nós possamos ocupá-los. Isso não é fácil e talvez seja uma utopia. Ainda não vi qualquer homem desistir de um cargo e de seu privilégio de fala. Exatamente isso, de deixar de falar para dar oportunidade às mulheres. Isso ainda não vi, por isso ainda não conheci algum “pro feminista”.

Rapidamente conto-lhes uma situação que vivenciei esses dias em uma mesa redonda. Éramos dois professores na mesa, entretanto o professor homem falou por uma hora, e eu precisei realizar a minha exposição em 20 minutos e ainda pedir desculpa porque foi excedido o tempo de duração da mesa. Enfim, esse é mais um dos vários exemplos de machismo que enfrentamos diariamente. Espero que possamos continuar essa reflexão e esse debate e, sobretudo, lutarmos juntas. Resolvi reeditar essa reflexão dado aos muitos relatos de colegas professoras de filosofia a respeito dos assédios que estão sofrendo nessa quarentena, parece que o vírus do machismo também virou pandendêmico!




Sigamos em Marcha até que todas sejamos livres!

Em 19 de fevereiro de 2019.

Atualizada em 23/05/2020.

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