Revista Enunciaçã / Dossiê Ceticismos / v. 10 n. 2 (2025)
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- 5 de out.
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Há décadas os Estudos Céticos encontram no Brasil e no restante da América Latina um solo fértil onde crescem e florescem (SMITH & BUENO, 2016). No entanto, apesar de sua prodigalidade, aqui no país a área ainda carece de ser mais inclusiva, assim como a Filosofia como um todo e a própria Academia, herdeira de uma concepção de Universidade elitista, capacitista, racista e machista.
Pensando nisso, sendo convidados pelas colegas Cristiane de Azevedo e Michelle Bobsin para editarmos um dossiê sobre ceticismo para esta Revista, resolvemos adotar dois tipos distintos de perspectivas, mas complementares: por um lado, decidimos pluralizar o termo “ceticismo” (donde “Dossiê Ceticismos”), acolhendo pontos de vistas teóricos variados, ainda que sobre um mesmo tema; por outro lado, tomamos por política editorial acolher e encorajar o ponto de vista de filósofas mulheres, pluralizando os Estudos Céticos também no sentido da representatividade.
Assim, tivemos por norte uma concepção editoral para este Dossiê que levasse em conta os seguintes desafios:
1- apesar dos estudos céticos na América latina serem muito profícuos, há pouca visibilidade para as filósofas mulheres céticas (sobretudo no Brasil), então decidimos ter mais textos de autoria feminina do que masculina;
2- há uma dificuldade de renovação do quadro de pesquisadoras, então decidimos convidar jovens cujo trabalho já apresenta muita excelência, dando visibilidade às suas investigações;
3- queríamos fazer um Dossiê que contivesse textos sobre ceticismos cobrindo quase toda a história da filosofia, e também suas áreas, tanto quanto possível. Por isso, temos textos desde a filosofia contemporânea até os pré-socráticos, passando por ética, política, hermenêutica, filosofia da linguagem, epistemologia, filosofia oriental, filologia e etc.;
4- queríamos fazer um Dossiê internacional, mas centrado em investigações em andamento na América Latina, por isso há artigos de autoria brasileira, argentina e colombiana (evidentemente, este recorte está longe de espelhar a vasta produção dos Estudos Céticos na LATAM, mas serve como pequeno espaço de amostragem);
5- também queríamos que fosse um dossiê multilíngue, por isso há textos em espanhol, português e inglês (aqui estamos dando, quem sabe, pequenos passos para um futuro Dossiê todo escrito em portunhol salvaje*).
Ao fim e ao cabo, com essas diretrizes em mente, coletamos sete artigos e uma resenha. Quanto aos artigos, optamos por ordená-los historicamente, mas de trás para frente, indo do que trata de ceticismos mais contemporâneos aos mais antigos.
Começamos, portanto, com o artigo Linguistic Pyrrhonism: Self-Destruction, Dogmatic Assertions, and Skeptical Expressions, no qual Guadalupe Reinoso (CONICET/ UNC-Argentina), a partir de uma questão herdada de Fritz Mauthner sobre as possibilidades da filosofia, pretende pensar as relações entre ceticismo e linguagem, mas evitando uma versão negativa do ceticismo, defendendo sua coerência.
De autoria de Sebastián Di Tomaso (CONICET/ CAPES – Move la América/ UNC- Argentina), o artigo El escepticismo crítico-lingüístico de Fritz Mauthner investiga um paradoxo envolvendo o projeto crítico/linguístico de Fritz Mauthner: que seu peculiar ceticismo linguístico-epistemológico conduziria à impossibilidade do conhecimento e de seu próprio projeto filosófico, que deve ser expresso com alguma linguagem.
Em Filosofía, naturaleza y escepticismo en Michel de Montaigne, Federico Uanini (CONICET/ CAPES – Move la América/ UNC- Argentina) se debruça sobre o ensaio Os Canibais para pensar o tema montaigniano da sabedoria natural, mas aqui interpretada a partir de uma crítica cética à cultura europeia e à vaidade dos filósofos de seu tempo.
Coassinado por Luis Carlos Rebelo (CAPES/ PPGFil-UFRRJ) e por Rodrigo Brito (UFRRJ), o artigo The Buddhist Pyrrhonism: a comparative approach parte de uma metodologia comparativa para tentar compreender conjuntamente aspectos caros da filosofia de Nagarjuna e dos céticos gregos, como o nirvana e a epoché.
Já Nailane Koloski (CNPq/ PPGFil-UFSC), em Origens do ceticismo da Nova Academia: Uma herança socrática, desenvolve a proposta de interpretar o ceticismo da Nova Academia como uma continuidade da atitude investigativa socrática presente nos diálogos de Platão.
Em Escepticismo (skepsis) y vida cotidiana (koinos bios): ¿puede el neopirronismo transformar nuestras vidas?, Soledad Massó (CAPES – Move la América/ UNC- Argentina) tematiza a possibilidade de superar controvérsias clássicas sobre o limite e o alcance do ceticismo através da noção de transformação experimental, herdada de Nietzsche.
No artigo Los Filósofos Esporádicos: Una Actitud Hacia El Conocimiento, o último do nosso Dossiê, Liliana Carolina Sanchez Castro (Universidad Nacional de Colombia) visita os filósofos avulsos que constam no livro IX das Vidas de Diógenes Laércio, perguntando-se sobre as motivações do autor para agrupar pensadores como Heráclito e Xenófanes junto com figuras fundacionais do ceticismo, como Pirro e Timão.
Finalmente, encerramos o volume com uma resenha redigida por Guadalupe Reinoso e Maximo Castelli (UNC – Argentina).
Agradecemos a todes pelo envio de seus textos, e também a Cristiane Azevedo e Michelle Bobsin pelo convite para editarmos este Dossiê.
Desejamos uma excelente leitura!
Alexandre Skvirsky
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