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DJAMILA RIBEIRO 

Nascimento: 01 de agosto de 1980

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  Julia Benetti

Graduanda em Ciências Sociais, UFRJ

Djamila Ribeiro

Djamila Taís Ribeiro dos Santos nasceu em 1º de agosto de 1980, na cidade de Santos, litoral de São Paulo. É uma filósofa, escritora, acadêmica e ativista brasileira amplamente reconhecida por seu trabalho na área do feminismo negro e na luta por igualdade racial e de gênero.

VIDA E EDUCAÇÃO

Filha caçula de quatro irmãos, seu pai era estivador e sua mãe, empregada doméstica. Sua família era de origem humilde, com uma história marcada pelo engajamento em lutas sociais, uma vez que seu pai era militante do movimento negro e membro fundador do Partido Comunista na Baixada Santista. Como consequência disso, sua visão de mundo foi profundamente influenciada pelo pai, que despertou nela, desde cedo, o interesse pelas questões de justiça social e igualdade racial.

Durante a infância, Djamila enfrentou o racismo estrutural e o machismo que permeiam a sociedade brasileira. Começou a perceber a exclusão e o silenciamento das vozes negras nos espaços de poder e na educação. Aos 8 anos, teve seu contato inicial com o candomblé, a partir de sua mãe, e intensificou sua conexão com essa religião por meio de sua avó Antônia, que é considerada por ela a figura responsável por seu caminho espiritual. Essa escolha religiosa, porém, trouxe desafios.

Djamila relata episódios de preconceito durante a infância, incluindo ataques de colegas na escola e tendo seu turbante arrancado de sua cabeça. Aos 11 anos, enfrentou uma tentativa de abuso por parte de um parente, o que a aproximou da militância ainda na infância. Suas experiências moldaram seu desejo de estudar filosofia e de se aprofundar em temas relacionados à raça, gênero e classe, apesar das dificuldades econômicas e das barreiras sociais impostas. Mesmo com essas adversidades, Djamila conseguiu acesso ao ensino superior. Aos 24 anos, no entanto, engravidou de sua primeira filha e precisou abandonar a faculdade para se dedicar à família. Três anos depois, decidiu retornar aos estudos, enfrentando a resistência de seu marido e de outros familiares, que desaprovavam o fato de ela deixar sua filha em uma creche de período integral. Determinada, Djamila se graduou em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em 2012 e, posteriormente, em 2015, concluiu seu mestrado na mesma instituição, com ênfase em Filosofia Política, analisando as contribuições de Simone de Beauvoir e suas interseções com gênero e raça.

Djamila sempre conciliou sua formação acadêmica com a militância política. Ao longo de sua trajetória como acadêmica e ativista, começou a ganhar reconhecimento por suas palestras e artigos que abordam o feminismo negro, a interseccionalidade e a luta antirracista. Seu trabalho conseguiu desmistificar conceitos teóricos e aproximá-los do grande público. A coleção Feminismos Plurais, uma série de livros fundada por ela, serve para tornar esses debates acadêmicos mais acessíveis.

Os conceitos trabalhados por Djamila, como o lugar de fala e a interseccionalidade, são essenciais para a compreensão das dinâmicas de opressão em sociedades marcadas pelo racismo, machismo e outras formas de desigualdade. Além disso, ela discursa e escreve sobre como raça, gênero e classe se cruzam e afetam as experiências de indivíduos em diferentes contextos. Além de escritora, Djamila foi secretária-adjunta de Direitos Humanos na cidade de São Paulo, onde fortaleceu sua atuação política. Essa experiência lhe deu uma visão mais ampla sobre as políticas públicas necessárias para combater as desigualdades estruturais no Brasil. Atualmente, Djamila Ribeiro é uma das principais vozes do pensamento crítico contemporâneo brasileiro e da luta por um Brasil mais justo e inclusivo.

 

VISÃO GERAL SOBRE ALGUMAS OBRAS

● "O Que É Lugar de Fala?" (2017)

Na obra O que é Lugar de Fala?, Djamila Ribeiro trabalha amplamente o conceito de lugar de fala, referindo-se à ideia de que cada pessoa compreende o mundo e se expressa a partir de sua posição social, histórica e cultural. Dessa forma, suas experiências estão diretamente conectadas à maneira como ela enxerga o mundo. Entretanto, isso não significa que apenas quem vive determinada experiência pode falar sobre ela; as vozes de quem vive diretamente uma opressão possuem um conhecimento único e legítimo sobre o tema. Dentro desta obra, a autora ressalta que reconhecer o lugar de fala é fundamental para amplificar as narrativas que foram historicamente silenciadas, como as de mulheres negras, pessoas LGBTQIA +, indígenas, entre outras. A análise apresentada propõe

uma reflexão sobre as desigualdades estruturais e os privilégios que determinam quem tem espaço para falar e ser ouvido.

No início da obra, Djamila contextualiza o conceito de lugar de fala, explicando que ele não se refere a uma restrição do direito de expressão, mas sim à valorização das vozes que foram historicamente silenciadas, como as mulheres negras e outros grupos marginalizados. Ela se baseia em teorias feministas e de intelectuais negras, como Patricia Hill Collins e bell hooks, para discutir como as relações de poder influenciam a construção dos saberes e discursos. A autora também aborda os mecanismos que perpetuam, até hoje, o silenciamento dessas vozes, destacando como as estruturas de poder coloniais, patriarcais e racistas sustentam as desigualdades enfrentadas por esses grupos. Um dos argumentos de Djamila é que a desconstrução desses sistemas passa pela redistribuição do espaço de fala, garantindo, assim, que os próprios sujeitos das opressões sejam os protagonistas na construção das narrativas sobre suas vidas.

Além disso, outros conceitos importantes são trabalhados para compreender como essas estruturas funcionam. Baseando-se em teóricas como Kimberlé Crenshaw, Djamila explora o conceito de interseccionalidade para demonstrar como diferentes formas de opressão atuam em conjunto, gerando experiências únicas. Ao propor a valorização dos conhecimentos dos grupos marginalizados, a autora também aborda o conceito de epistemologia do sul, que defende a importância de dar centralidade às vozes e saberes historicamente excluídos. A obra O que é Lugar de Fala?´ é uma reflexão poderosa e necessária sobre as dinâmicas de poder, silenciamento e desigualdade que atravessam a sociedade. Djamila Ribeiro convida o leitor a reconhecer as estruturas de privilégio e a importância de ouvir e legitimar as vozes marginalizadas. Por meio de conceitos como interseccionalidade e epistemologia do sul, a autora demonstra que o caminho para uma sociedade mais equitativa passa pela redistribuição dos espaços de fala e pelo protagonismo das pessoas historicamente oprimidas na construção de suas próprias narrativas.

● "Quem Tem Medo do Feminismo Negro?" (2018)

Essa obra é uma coletânea de ensaios que reúne reflexões pessoais, políticas e acadêmicas sobre o feminismo negro no Brasil e no mundo. Djamila Ribeiro dialoga com questões históricas e contemporâneas para compreender as interseções entre racismo, machismo e desigualdade social, evidenciando como esses sistemas de opressão se entrelaçam e afetam diretamente as mulheres negras. Ao longo da obra, a autora retrata questões fundamentais, como o silenciamento de vozes negras, o apagamento histórico de mulheres negras dentro do movimento feminista e a importância de figuras pioneiras como Sueli Carneiro, Angela Davis e Lélia Gonzalez para o fortalecimento do feminismo negro.

Djamila argumenta que essas mulheres não só abriram caminhos para a emancipação das mulheres negras, mas também contribuíram de forma significativa para a construção de um pensamento crítico que desafia as estruturas de poder racistas e patriarcais. Para Djamila, o feminismo negro é uma das ferramentas mais importantes para desmantelar as estruturas de opressão que atravessam a vida das mulheres negras, que enfrentam, em seu cotidiano, tanto o racismo quanto o machismo. A autora reflete sobre como as mulheres negras vivem na interseção de múltiplas opressões, destacando a necessidade de abordagens específicas que levem em conta essas vivências. Ela utiliza o conceito de interseccionalidade, formulado por Kimberlé Crenshaw, para demonstrar como raça, gênero e classe se cruzam e criam experiências únicas de exclusão e violência. Uma das críticas centrais levantadas pela autora é direcionada ao feminismo hegemônico, que historicamente não incluiu de forma adequada as pautas específicas das mulheres negras.

Djamila Ribeiro expõe como o feminismo branco frequentemente negligencia as questões de raça, invisibilizando as demandas de mulheres que enfrentam opressões múltiplas. Paralelamente, ela desafia a sociedade a repensar as formas como lida com essas desigualdades estruturais, propondo um feminismo inclusivo, que reconheça a pluralidade das vivências femininas. Além de trazer reflexões teóricas, o livro também é uma obra profundamente prática, pois utiliza relatos pessoais e exemplos cotidianos para ilustrar as formas como o racismo estrutural opera na sociedade brasileira.

Djamila destaca como as mulheres negras são frequentemente relegadas a posições de subalternidade e como o feminismo negro, ao dar protagonismo a essas mulheres, oferece uma resposta potente e transformadora às desigualdades sociais. A autora também celebra a ancestralidade como uma fonte de força e resistência, conectando as lutas atuais às histórias e memórias de mulheres negras que abriram caminhos para as gerações futuras. Ela valoriza as experiências e os saberes produzidos por mulheres negras como fundamentais para compreender e

transformar a sociedade. “Quem Tem Medo do Feminismo Negro?” é, portanto, uma obra que busca explorar as dinâmicas de poder que estruturam a sociedade brasileira e como o feminismo negro oferece respostas impactantes a essas desigualdades.

Djamila Ribeiro convida o leitor a refletir sobre o papel do feminismo negro como uma prática de resistência, transformação e emancipação, mostrando que ele é indispensável para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e plural. A obra não é apenas uma análise crítica das opressões estruturais, mas também um chamado à ação. Com linguagem acessível e poderosa, Djamila Ribeiro reforça a importância de ouvir, valorizar e amplificar as vozes das mulheres negras, que há séculos lutam por dignidade, respeito e justiça. Trata-se de uma leitura essencial para quem deseja compreender a profundidade das desigualdades no Brasil e repensar os caminhos para superá-las.

● "Pequeno Manual Antirracista" (2019)

Essa obra de Djamila Ribeiro busca fornecer ferramentas para reflexão e combate ao racismo estrutural ao longo de seus 11 capítulos. Com um texto acessível e direto, a autora facilitou o diálogo entre os temas tratados e os leitores de diferentes níveis de entendimento. A obra aborda questões complexas relacionadas a conceitos como o de branquitude e a relação entre racismo e capitalismo, de maneira que seja compreensível para o público em geral. A autora oferece uma reflexão sobre o racismo estrutural e propõe maneiras de combatê-lo de forma ativa, explicando como o racismo está enraizado nas estruturas sociais, políticas e econômicas, impactando diretamente a vida das pessoas negras. Ela também destaca a importância de reconhecer os privilégios relacionados à branquitude e como isso contribui ativamente para a manutenção das desigualdades. O conceito de interseccionalidade também é introduzido nesta obra para mostrar como o racismo cruza com outras formas de opressão e para ressaltar a necessidade inegável de que essas questões sejam abordadas de forma integrada. A partir disso, a autora propõe a educação antirracista como uma ferramenta fundamental para desmantelar o racismo, enfatizando a importância de que todos estejam dispostos a aprender sobre a história da população negra.

PRÊMIOS E RECONHECIMENTOS

● Reconhecimentos como uma das 100 mulheres mais influentes do mundo (BBC, 2019)

● O título de Doutora Honoris Causa pela Universidade de Brasília (UnB, 2021);

● Prêmios literários como o Jabuti, pela obra Pequeno Manual Antirracista.

● Em 2019, foi escolhida como uma das 100 mulheres mais influentes do mundo pela BBC.

● Recebeu o Prêmio Jabuti de Livro do Ano na categoria Ciências Humanas em 2020 pelo

Pequeno Manual Antirracista.

● Em 2021, foi agraciada com o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade de Brasília

(UnB), em reconhecimento à sua contribuição intelectual e social.

 

BIBLIOGRAFIA

RIBEIRO, D. O que é lugar de fala? Belo Horizonte: Letramento, 2016.

RIBEIRO, D. Quem tem medo do feminismo negro? São Paulo: Companhia das Letras, 2018.

RIBEIRO, D. Pequeno manual antirracista. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.

RIBEIRO, D. Cartas para minha avó. São Paulo: Companhia das Letras, 2021.

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