GT FILOSOFIA E GÊNERO
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- A anomia social imposta pela pandemia amplia as desigualdades de gênero
Juliana Machado Aluna do Mestrado em Direito Cesupa e integrante do Grupo de Pesquisa: Filosofia Prática: Investigações em Política, Ética e Direito. Loiane Prado Verbicaro Professora da Faculdade de Filosofia e do PPGFIL da Universidade Federal do Pará. Coordenadora do Grupo de Pesquisa: Filosofia Prática: Investigações em Política, Ética e Direito. A pandemia do vírus SARS-Cov-2 tem sido discutida principalmente através de dois prismas: saúde e economia. Essas são as duas lentes macro representativas de um cenário que atinge sujeitos e, portanto, o campo micro, individual. É imprescindível abordar as especificidades componentes dos sujeitos atingidos pelas mudanças sociais e econômicas que estamos experienciando, pois a compreensão da pluralidade social assegura uma visão dinâmica e mais coerente da sociedade. Temos, assim, mais capacidade de entender a situação acentuada de vulnerabilidade em que determinados grupos, como o das mulheres, se encontram. Posicionamentos como o do Vice-Ministro da Saúde do Irã, Iraj Harirchi, quando afirma que o coronavírus é “[...] um vírus democrático e não faz distinção entre ricos e pobres, entre estadistas e cidadãos comuns”, trazem o entendimento de que a manifestação da doença não discrimina, uma vez que trataria a todos com igualdade. No entanto, a desigualdade social e econômica garantirá a discriminação do vírus. “O vírus por si só não discrimina, mas nós humanos certaremos o fazemos”. (BUTLER, 2020). Trata-se de um mito conveniente de que as doenças infecciosas desconhecem classe social ou outros marcadores de desigualdade. Decerto que os maiores impactos econômicos e sociais serão sentidos mais drasticamente pelos mais vulneráveis. A anomia social imposta em tempos epidêmicos amplia as desigualdades de gênero baseadas na divisão sexual do trabalho. Há, portanto, impactos desproporcionais aos sujeitos sociais, agravando-se ao fato de que o sistema opressivo se articula, interseccionando gênero, raça, classe social e territorialidade nas suas exclusões, atingindo especificamente as mulheres de forma multifacetada e multiexperienciada. Desde a antiguidade clássica grega a divisão sexual do trabalho estabeleceu-se. Aristóteles utilizou-se de dois termos do grego clássico que, semanticamente, referem-se à palavra vida: a) zoé, relativo à vida natural; ao simples fato de viver comum a todos os seres vivos; b) bíos: que consiste na vida politicamente qualificada e na politização ligada à linguagem e aos juízos de bem, mal, justo e injusto. Trata-se do bem viver, que é o telos da política. Esses termos marcam a separação entre o doméstico, campo de cuidado com a reprodução e continuidade da vida, conduzido pelas mulheres e o político, assumido pelos homens, ao se emanciparem dos cuidados com a casa. Essa delimitação persiste, com a naturalização de que o trabalho doméstico e o cuidado com os filhos, os idosos e os enfermos são tarefas precípuas das mulheres. No Brasil, 92,6% da população brasileira feminina com idade acima de 14 anos, é responsável pela atividade doméstica e cuidado de pessoas, gastando uma média de 21 horas semanais com essas atividades, como informam os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (IPEA, 2019). Para analisarmos esse dado, é necessário compreender que o sexismo, exerce “[...] sua violência simbólica de maneira especial sobre a mulher negra” (GONZALES, 1984, p. 228), pois as relações de poder imbricadas em múltiplas estruturas dinâmicas interseccionam uma instrumentalidade “[...] teórico-metodológica à inseparabilidade estrutural do racismo, capitalismo e cisheteropatriarcado – produtores de avenidas identitárias em que mulheres negras são repetidas vezes atingidas [...]” (AKOTIRENE, 2018, p. 19). Os números referentes ao trabalho doméstico e do cuidado que englobam mulheres negras, demonstram duplas jornadas de trabalho, admitindo às jornadas pagas, pelos serviços destinados ao cuidado no seu ambiente de trabalho e às jornadas não pagas, as quais adicionam o cuidado de si, da casa e com seus familiares, em uma média de mais de 50 horas semanais de trabalho doméstico e respondendo por 63% do total de trabalhadores domésticos do país. Nota-se que a força de trabalho que se dedica ao cuidado dos números crescentes de doentes é altamente sexista, racializada e etnicizada no Brasil e na maior parte do mundo. (IPEA, 2019). As mulheres representam ainda, cerca de 70% da força de trabalho na área da saúde, o que mostra a feminização dessa força de trabalho e as coloca no pelotão de frente ao combate, com maior possibilidade de contaminação pelo vírus. Sem, contudo, trazer ao debate público as particularidades dos acúmulos de função historicamente assumidos pelas mulheres, o que permite o acentuamento da sua vulnerabilização. A exemplo, a equipe de enfermagem brasileira é composta por 84,6% de mulheres, cujo salário, de mais da metade do contingente empregado, não passa de R$2.000,00 (dois mil reais). Esse fato as coloca junto com cerca de 80% da população brasileira com renda familiar per capita mais baixa. Temos então, uma mulher possivelmente periférica, com acúmulo de jornada de trabalho, diretamente exposta às múltiplas desigualdades econômicas, também de gênero e raça, lidando diariamente com as diferentes frentes de vulnerabilização expostas pela pandemia. (COFEN, 2011). Além disso, as mulheres também são vítimas de uma onda de violência doméstica, física e sexual. As medidas de quarentena, associadas ao convívio em tempo integral, ao uso indiscriminado de álcool e às dificuldades financeiras, propiciam o desenvolvimento de comportamentos abusivos por seus companheiros. O distanciamento social acaba dificultando o acesso das mulheres às redes de proteção, o que tem ocasionado um significativo crescimento no número de denuncias por violência doméstica no mundo, o que fez o Chefe da ONU, António Guterres, emitir um alerta aos países que estão praticando o isolamento social como forma de prevenção à propagação do vírus. São, portanto, muitas as frentes que amplificam a desigualdade de gênero nesse momento de pandemia. Como afirma Carolina Araújo, a crise é a hora da filosofia. É o momento de reavaliarmos os problemas mais profundos de nossas sociedades, o que passa análise das desigualdades estruturais e fundantes que normalizaram o sexismo, o racismo e o classismo sobrepostos e interconectados às demais categorias de diferenciação. É tempo de refletir sobre a sobrevivência do regime de privilégios legalizados e desigualdades legitimadas que nos conduzem, persistentemente, ao aumento da vulnerabilidade, iniquidade e fratura social. É tempo de reiterar os nossos firmes compromissos com a implementação de uma agenda igualitária. Referências AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade. São Paulo: Pólen, 2018. ARISTÓTELES. A Política. Bauru: Edipro, 2009. BUTLER, Judith. El capitalism tiene sus limites. In: Sopa de Wuhan: Pensamiento Contemporáneo en Tiempos de Pandemias. Buenos Aires: Pablo Amadeu Editor. Editorial ASPO (Aislamiento Social Preventivo y Obligatorio), 2020. COFEN. Comissão de bussiness inteligence. Brasília: Conselho Federal de Enfermagem, 2011. GONZALES, Lélia. Racismo e Sexismo na cultura brasileira. Revista em Ciências Sociais Hoje. Caxambu, MG, Anpocs, 1984, p. 223-244. INSTITUTO DE PESQUISA ECONOMICA APLICADA. Texto para discussão 2528. Brasília: IPEA, 2019. PERISSÉ, C.; LOSCHI, M. Trabalho de mulher. Retratos. Rio de Janeiro, n. 17, p. 19, jul. ago. 2019. Revista Divulgação em Saúde para Debate. No.45 maio 2010, Rio de Janeiro, p. 54-70.
- Introdução ao feminismo: curso online gratuito
A Rede Brasileira de Mulheres Filósofas apresenta o seu primeiro curso online. Totalizando 20 (vinte) horas, o curso Introdução ao Feminismo terá seis aulas, cada uma ministrada por uma professora especialista que abordará temas da teoria feminista no Brasil e na América Latina. O curso será gratuito, oferecido na modalidade à distância pela Plataforma https://meet.google.com/ e poderá ser realizado de qualquer lugar do Brasil com acesso à internet. Após a participação em pelo menos 75% das aulas, as(os) participantes poderão solicitar certificado. Coordenação: Profa. Dra. Rita de Cássia Fraga Machado – Universidade do Estado do Amazonas (UEA) Período: 15/04 a 20/05/2020 Horário: quartas-feiras das 18h às 20h30 (BSB) Inscrições: até 13/04 às 10:00hs apenas aqui 1. CRONOGRAMA AULA 01 – 15/04 – Introdução ao Feminismo – Dra. Ilze Zirbel, UFSC AULA 02 – 22/04 – Feminismo Marxista – Dra. Rita Machado, UEA AULA 03 – 29/04 – Feminismo Negro – Dra. Halina Leal, FURB AULA 04 – 06/05 – Feminismos Indígenas – Dra. Lia Pinheiro Barbosa, UECE AULA 05 – 13/05 – Estética Feminista – Dra. Carla Damião, UFG AULA 06 – 20/05 – Feminismos Subalternos – Dra. Susana de Castro, UFRJ 2. BIBLIOGRAFIA BÁSICA BARBOSA, Lia Pinheiro. Florescer dos Feminismos na luta das mulheres indígenas e camponesas na América Latina. Revista NORUS, vol.7, n. 11, 2019. Disponível em: https://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/NORUS/article/view/17048 CISNE, Mirla. Feminismo e marxismo: apontamentos teórico-políticos para o enfrentamento das desigualdades sociais. Serviço Social & Sociedade, São Paulo, n. 132, p. 211-230, mai/ago. 2018. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/sssoc/n132/0101-6628-sssoc-132-0211.pdf GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo latino-americano. Caderno de formação política do círculo palmarino n.1: batalha de ideias. Brasil, 2011. Disponível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/271077/mod_resource/content/1/Por%20um%20feminismo%20Afro-latino-americano.pdf LUGONES, María. Colonialidad y género. Tabula Rasa. Bogotá - Colombia, No.9: 73-101, julio-diciembre 2008. Disponível em: https://www.revistatabularasa.org/numero-9/05lugones.pdf QG FEMINSTA. Existem “vertentes” no feminismo? QG Feminista. 05 de março de 2018. Disponível em: https://medium.com/qg-feminista/quais-s%C3%A3o-as-principais-vertentes-do-feminismo-ae26b3bb6907 QUIJANO, Aníbal. Colonialidade do poder: eurocentrismo e América Latina. In:_____. A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais. Perspectivas latino-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005. Disponível em: http://biblioteca.clacso.edu.ar/clacso/sur-sur/20100624103322/12_Quijano.pdf ROELOFS, M. “Estética, endereçamento e ‘sutilezas’ raciais”. In: DAMIÃO, C.M/ALMEIDA, F.F. Estética em Preto e Branco. Goiânia, Editora Ricochete. Disponível em: https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/688/o/Estetica_em_Preto_e_Branco_-_ebook_final.pdf SACAVINO, Susana. Tecidos feministas de Abya Yala: Feminismo Comunitário, Perspectiva Decolonial e Educação Intercultural. Uni-Pluri/Versidade, vol. 16. n. 2, 2016. Disponível em: https://pdfs.semanticscholar.org/ecbc/2781b69219ecd75f03335906b2b2e62987b6.pdf 3. BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR AKOTIRENE, Carla. Interseccionalidade.São Paulo: Pólen, 2019. BALLESTRIN, Luciana. América Latina e o giro decolonial. Revista Brasileira de Ciência Política, 2013, n.11, pp.89-117. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-33522013000200004&script=sci_abstract&tlng=pt CARNEIRO, Sueli. Racismo, Sexismo e desigualdade no Brasil. São Paulo: Selo Negro Edições, 2011 CISNE, Mirla. Marxismo: uma teoria indispensável à luta feminista. In: 4º Colóquio Marx e Engels, 2005, Campinas/SP. 4º Colóquio Marx e Engels, 2005. COLLINS, Patrícia Hill. Pensamento Feminista Negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento; tradução Jamile Pinheiro Dias. 1 ed. São Paulo: Boitempo, 2019. DAMIÃO, C.M. “O sublime revisitado sob perspectivas feministas”. In: FREITAS, V./COSTA, R./PAZETTO, D. O trágico, o sublime e a melancolia. Belo Horizonte, Editora Relicário, 2016. DAVIS, Angela. Mulheres, Raça e Classe; tradução Heci Regina Candiani. 1 ed. São Paulo: Boitempo, 2016. DE CASTRO, Susana. “Condescendência: estratégia pater-colonial de poder”. In: Hollanda, Heloisa Buarque de (org.). Pensamento Feminista Hoje: perspectivas Decoloniais. Rio de Janeiro: bazar: 2020. DESCARRIES, Francine. Teorias Feministas: Liberação e Solidariedade no Plural. Textos de História, Revista do Programa de Pós-graduação em História Da UnB., vol. 8, no 1, p. 09-45, 2000. Disponível em: https://periodicos.unb.br/index.php/textos/article/view/27802 FANON, Frantz. Peles Negras, Máscaras Brancas. Salvador: EDUFBA, 2008. FEDERICI, Silvia. Calibã e a Bruxa. Mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: Elefante, 2019. GONZALEZ, Lélia, HASENBALG, Carlos. Lugar de Negro. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1982. GROSFOGUEL, Ramón. “Para uma visão decolonial da crise civilizatória e dos paradigmas da esquerda ocidentalizada”. In: Bernadino-Costa, Joaze et ali (org.). Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico. Belo Horizonte: Autêntica, 2019. HOOKS, bell. E eu não sou uma mulher? Mulheres negras e feminismo; tradução Bhuvi Libanio. 1 ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 2019. _________. Teoria Feminista: da margem ao centro; tradução Rainer Patriota. – São Paulo: Perspectiva, 2019. (originalmente publicado em 1984). HUXLEY, A. Admirável mundo novo. São Paulo: Globo, 2014. KILOMBA, Grada. Memórias da Plantação: Episódios de racismo cotidiano; tradução Jess Oliveira. 1 ed. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019. LEAL, Halina. Da/os outra/os para si, mulheres negras e laços sociais. Correio APPOA. N. 292, outubro de 2019. MALDONATO-TORRES, Nelson. “Analítica da colonialidade e da decolonialidade: algumas dimensões básicas”. In: Bernadino-Costa, Joaze et ali (org.). Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico. Belo Horizonte: Autêntica, 2019. MIÑOSO, Yuderkys Espinosa. “De por qué es necessário um feminismo descolonial: diferenciación, dominación co-constitutiva de la modernidade occidental y el fin de la política de la identidade”. Solar, Lima, v.12, n.1, p.141-171. Disponível em: http://revistasolar.org/wp-content/uploads/2017/07/9-De-por-qu%C3%A9-es-necesario-un-feminismo-descolonial...Yuderkys-Espinosa-Mi%C3%B1oso.pdf MORAES, Maria Lygia Quartim de. Marxismo e feminismo: afinidades e diferenças. Crítica Marxista, São Paulo, v. 1, nº 11, p. 89-97, jan.2000. MORRISON, Toni. A origem dos outros: seis ensaios sobre racismo e literatura. São Paulo: Companhia das Letras, 2019. RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala?; Belo Horizonte: Letramento: Justificando, 2017. _____________. Quem tem medo do feminismo negro? São Paulo: Companhia das Letras, 2018. ROELOFS, M. The Cultural Promisse of the Aesthetic. London/New York: Bloomsbury, 2014. 4. QUEM SOMOS CARLA MILANI DAMIÃO é professora associada na Faculdade de Filosofia da Universidade Federal de Goiás, dos Programas de Pós-Graduação em Filosofia (PGFIL) e Arte e Culturas Visuais (PPGACV) na mesma Universidade. Publicou e organizou livros, sendo o último Estéticas Indígenas. Atua principalmente na área de Estética e Filosofia da Arte e participa com entusiasmo das discussões feministas como membro fundadora do GT de Filosofia e Gênero da ANPOF. Lattes: http://lattes.cnpq.br/2366404598683251 HALINA MACEDO LEAL é Bacharel em Filosofia pela UFRGS (1998), Mestre em Filosofia pela UFSC (2001) e Doutora em Filosofia pela USP (2005), com estágio na Universidade de Stanford, Califórnia. Possui Pós-Doutorado em Filosofia pela UNIOESTE (2014). Professora da FURB e líder do GENERA - Grupo Interdisciplinar de Pesquisas em Gênero, Raça e Poder, FURB. Lattes: http://lattes.cnpq.br/5698575555739025 ILZE ZIRBEL é formada em História e Teologia, com mestrado em Sociologia Política e doutorado em Filosofia. Atualmente faz seu pós-doutorado em Filosofia na Universidade Federal de Santa Catarina e participa do projeto “Uma filósofa por mês”. Questões e teorias feministas têm sido seu fio condutor em meio a interdisciplinaridade de sua trajetória, com ênfase em Ética, Teoria Política, História da Filosofia e Epistemologia. Lattes: http://lattes.cnpq.br/8740728758861601 LIA PINHEIRO BARBOSA é Socióloga e Doutora em Estudos Latino-Americanos. Docente na Universidade Estadual do Ceará (UECE), no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e no Mestrado Acadêmico Intercampi em Educação e Ensino (MAIE). Pesquisadora do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO), no GT Economía Feminista Emancipatoria. Líder do Grupo de Pesquisa Pensamento Social e Epistemologias do Conhecimento na América Latina e Caribe. Lattes: http://lattes.cnpq.br/3858914223581195 RITA DE CÁSSIA FRAGA MACHADO é feminista, professora na Universidade do Estado do Amazonas, pesquisadora associada à ANPOF (Associação Brasileira de Pós-Graduação em Filosofia) e compõe o núcleo estruturante do GT de Filosofia e Gênero. É Militante da Marcha Mundial das Mulheres Brasil. Tem diversas produções nos Estudos Feministas. Lattes: http://lattes.cnpq.br/8882999172098781 SUSANA DE CASTRO é Professora associada do departamento de filosofia da UFRJ e do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da UFRJ. Coordenadora do Laboratório Antígona de Filosofia e Gênero. Autora dos livros Filosofia e Gênero (7Letras, 2014) e As mulheres das tragédias gregas: poderosas? (Manole, 2011), e do capítulo “Condescendência: estratégia pater-colonial de poder” (In: Hollanda, Heloisa Buarque, org. Pensamento feminista Hoje: Perspectivas decoloniais, Bazar, 2020), entre outros. Lattes: http://lattes.cnpq.br/7714162590268606 #redebrasileirademulheresfilosofas #filosofasemquarentena #filosofasOrg #introducaoaofeminismo
- Ensinando coisas dolorosas em um mundo injusto
Este é um post convidado, escrito por Audrey Yap, Professora do Departamento de Filosofia da Universidade de Victoria, sobre como e se você deve incorporar material sobre o Covid-19 em suas aulas. (Originalmente publicado em The Philosophers Cocoon. A tradutora experimenta, no que se segue, usar o feminino como “pronome neutro”.) Nesse momento particular, quando muitas professoras estão em transição ou se preparando para fazer a transição para diferentes tipos de instrução em meio a uma pandemia global, muitas de nós se impressionarão com a importância de boa parte do material com o qual lidamos profissionalmente. Muitas professoras estão ponderando o quanto querem incluir material relevante sobre o COVID-19 em suas aulas, ou ao menos começam a reconhecer até que ponto o material com o qual já trabalham tem implicações para nosso pensamento sobre a situação atual. Com relação à pergunta anterior, Sean Valles (Michigan State), que trabalha com filosofia e saúde pública, escreveu um post extremamente útil no Facebook e deu uma entrevista significativa, disponível no podcast Sci Phi. É provável, entretanto, que mesmo aquelas que não contemplem explicitamente conteúdos sobre saúde pública e pandemias possam achar que seus cursos de filosofia da ciência, filosofia política ou cursos de teoria dos valores eventualmente se se conectem com o tema. Essa situação, entretanto, não é tão nova assim, principalmente para muitas filósofas que trabalham sobre temas como opressão. Muitas dessas acadêmicas, incluindo (certamente não de forma restrita) filósofas feministas, da raça, da deficiência [disability] e que trabalham com o tema da descolonização, há anos vêm conversado com as estudantes sobre assuntos que são ao mesmo tempo dolorosos e diretamente conectados às suas circunstâncias, suas vidas. Quando ensinamos sobre violência de gênero em turmas de graduação, por exemplo, é quase certo que estamos conversando com uma audiência na qual há vítimas de violência de gênero e talvez mesmo algumas agressoras. Levando isso em conta, este post pretende oferecer algumas considerações que são úteis para mim e para outras filósofas feministas quando ensinamos sobre temas potencialmente dolorosos. Como a violência de gênero é uma das minhas áreas de pesquisa, pensei em compartilhar algumas das coisas que tento ter em mente quando a discuto na sala de aula. 1. Todas as suas estudantes serão impactados de maneiras diferentes. Você provavelmente não será capaz de antecipar todas elas. Por isso, tente evitar fazer de qualquer pessoa ou grupo, de saída, um vilão. Suponha, e convide as estudantes a supor com você, que o grupo pode conter pessoas que sofreram e também pessoas que fizeram sofrer. Algumas dentre aquelas que fazem ou fizeram outras sofrer podem até perceber isso por si mesmas no curso de suas discussões. Podemos também reconhecer explicitamente que nenhuma das duas categorias forma um grupo homogêneo e que frequentemente existem pessoas que se enquadram em ambas. 2. Estabeleça explicitamente com o grupo práticas de correção mútua, sobre como agir se alguém disser algo problemático, ou sobre como discordar umas das outras acerca de um assunto delicado. Deixe claro que você está entre as pessoas que podem ser corrigidas ou das quais se pode discordar. Algumas professoras expressam isso em termos de paciência umas com as outras e em termos de nos dar a chance de revisar e repensar nossos próprios vieses, perspectivas e preconceitos. Isso pode estar incluído no seu programa de curso, por exemplo. Às vezes, digo às estudantes que se eu usar um termo inapropriado ou apresentar um problema de maneiras que elas consideram problemáticas, eu apreciaria muito se me sugerissem um termo ou enquadramento mais adequado – seja pessoalmente ou mais tarde por e-mail. Algumas estudantes já fizeram isso por mim, o que achei extremamente útil. 3. Tenha cuidado com discussões não-moderadas, como discussões em pequenos grupos. O que para uma pessoa parece um cenário abstrato pode muito bem ser a vivência de outra pessoa. Mesmo especulações filosóficas bem-intencionadas sobre um tal cenário podem ser experimentadas como profundamente nocivas. Considere, por exemplo, o que algumas filósofas da deficiência [disability] dizem sobre sua experiência em cursos de filosofia nos quais o assunto “deficiência” surge. Você precisará, então, ter uma boa noção das habilidades necessárias para a discussão em seu grupo, incluindo o compartilhamento de um vocabulário. E, provavelmente, será preciso também ter certa clareza sobre alguns resultados pretendidos dessas discussões. 4. Tenha cuidado também com as formas de avaliação. Para algumas pessoas, a escrita filosófica sobre experiências pessoais dolorosas pode parecer terapêutica, ou ao menos neutra. Para outras, pode ser traumática. Tente estabelecer práticas de avaliação que sejam pelo menos flexíveis o suficiente para não forçar as estudantes a escrever sobre alguns desses tópicos. Se você as forçar a fazer isso, poderá estar avaliando não apenas suas habilidades filosóficas, mas também sua capacidade de compartimentalizar o trauma, ou mesmo elaborá-lo em um contexto filosófico. Você também deve pensar em quem vai avaliar essas tarefas. Você está preparado para fazê-lo? Essa pergunta é importante não apenas para o bem das pessoas cujo trabalho está sendo avaliado, mas para aquelas que precisam ensiná-lo e avaliá-lo. Na minha própria experiência, ler o trabalho da estudante que se envolve com esse tipo de material difícil é gratificante e desgastante. O me leva ao ponto final. 5. Você também está no mundo. Nenhuma de nós é uma fonte desencarnada de conhecimento, e falar sobre assuntos dolorosos e difíceis talvez seja um momento no qual você precise ser humana com suas estudantes, em vez de “apenas” sua professora. Em parte, isso significa reconhecer seu próprio lugar social e ser honesta a esse respeito, pois isso afeta tudo, e de modos que você talvez não consiga prever. Em parte, isso significa reconhecer que você tem sua própria vida emocional e seu relacionamento com os problemas em questão. Já chorei em seminários e palestras. Isso é parte de quem eu sou em geral – não sei esconder emoções [I have no pokerface]. Em nenhum momento senti que isso me prejudicou como sujeito de conhecimento; já ocorreu, por vezes, de estudantes me dizerem que apreciavam a permissão implícita de sentir e mostrar seus sentimentos sobre o assunto. Ocorre que eu também ensino conteúdos relacionados a opressões que eu mesma não enfrento e preciso ser honesta sobre o fato de que não sou impactada negativamente por essas coisas do mesmo modo que alguns de minhas estudantes são. Independentemente dos lugares em que você está posicionada, se você espera que as estudantes confiem em você, mesmo em suas posições de vulnerabilidade, você também precisa estender essa confiança a elas. Se você não puder fazer isso, tudo bem – mas tente não impor a outras pessoas demandas emocionais que você também não está preparada para atender. Não pretendo que essas estratégias atenuem todos os danos possíveis que minhas aulas podem acarretar. Ou que esta lista seja completa ou funcione para todas em todas as salas de aula. Mas se você está pensando no que fazer quando o tópico “COVID-19” aparecer em sua aula, lembre-se de que há algum tempo muitas de nós já ensinamos sobre tópicos que sabemos ser diretamente significativos para algumas vivências extremamente difíceis de nossas estudantes. Na medida em que observamos o grande número de questões filosóficas diante das quais uma pandemia global ganha relevo, vale lembrar que crises como essas ampliam desigualdades e tensões em nossos sistemas. As questões filosóficas que pensávamos estar ensinando de forma imparcial e neutra podem ter mais relevância pessoal para alguns de nossos estudantes do que se pensava até agora. Tradução de Gisele Secco (Tradução autorizada pela autora. A tradutora agradece a Nastassja Pugliese e Ronai Rocha pela revisão que auxiliaram fazer no texto)
- Madame du Châtelet por Mitieli Seixas
"Eu sou minha própria pessoa e sou a única responsável por mim mesma e por tudo o que sou, o que digo e o que faço. Podem existir metafísicos e filósofos cujo conhecimento seja maior do que o meu. Ocorre que eu ainda não os encontrei. Mas, mesmo eles, são apenas fracos seres humanos com falhas, e quando conto meus talentos, eu penso que posso dizer que não sou inferior a nenhum deles.” diz Madame Du Châtelet. No verbete do blog Mulheres na Filosofia dedicado à Du Châtelet, Mitieli Seixas desenvolve os principais aspectos da vida e obra da filósofa, matemática e cientista francesa do século XVIII. Lendo o verbete você poderá saber mais sobre suas publicações em anonimato, seu intercâmbio intelectual com Voltaire, suas importantes obras sobre a física Newtoniana, os comentários de Kant ao seu trabalho e a influência de Leibniz em sua filosofia natural. Além disso, Mitieli Seixas localiza a obra de Du Châtelet no projeto de reconstrução do cânone da história da filosofia a partir da contribuição das filósofas. Ela aponta que este resgate esbarra em inúmeras dificuldades: “Dentre elas, contamos dificuldades em localizar os textos, atribuir-lhes autoria e legitimar formas narrativas não convencionais. A obra da Marquesa du Châtelet não é imune a esses obstáculos”. No verbete, Seixas mostra que du Châtelet teve textos que foram publicados anonimamente, outros publicados apenas postumamente e outros que sequer foram devidamente localizados! Leia o verbete e saiba mais sobre a obra de Émile du Châtelet e seu impacto na filosofia do século XVIII. A autora Mitieli Seixas é professora da UFSM, pesquisa Filosofia Moderna e já publicou diversos artigos na área. Ela coordena o Grupo de Estudos e Extensão Universidade das Mulheres que procura previnir e combater a exclusão e a violência de gênero. Seixas já apresentou o resultado de sua pesquisa sobre a epistemologia de Émile du Châtelet em diversas conferências e ela é uma de nossas autoras aqui no blog Mulheres na Filosofia. O verbete está disponível em pdf, pronto para ser impresso e utilizado em sala de aula! Confira! https://www.blogs.unicamp.br/mulheresnafilosofia/emilie-du-chatelet/ #blogmulheresnafilosofia #redebrasileirademulheresfilosofas #duchêtelet
- Roswitha Scholz na entrevista de Jéssica Cristina Luz Menegatti (filosofiaaserio)
Ouça o podcast em filosofiaaserio. #filosofiaaserio #redebrasileirademulheresfilosofas
- Yara Frateschi e Cidah Duarte: Reprodução Social e Atividade Docente na Crise do Covid-19
Hoje, 04 de abril, às 16:00hs, live. #filosofasemquarentena #redebrasileirademulheresfilosofas #filosofasnarede
- Futuras filósofas: o caminho que se abre para as mulheres
Nádia Junqueira Jornalista da Anpof e Doutoranda em Filosofia Política (Unicamp) Qualquer estudante de Filosofia possivelmente lembra-se que seu primeiro contato com o pensamento da Antiguidade, seja no Ensino Médio ou no Ensino Superior, envolveu nomes como Aristóteles, Platão, Heráclito, Epicuro. Quantos estudaram Hipátia de Alexandria? Ester Barbosa, estudante de Graduação em Filosofia na UFRJ, conheceu a história da filósofa da Antiguidade Tardia por conta própria, ainda no Ensino Médio. Em uma locadora de filmes, escolheu um filme sobre a astrônoma nascida no Egito e, desde então, seu interesse por Hipátia só cresce. Hoje, realiza monografia pesquisando o pensamento da filósofa. A experiência de Ester não é um caso isolado entre aqueles que estudam Filosofia. As mulheres estão à margem do cânone e não é incomum que alguém tenha uma formação em Filosofia, de Ensino Médio à pós-graduação, sem ter estudado uma mulher. Mas a realidade, pouco a pouco, parece mudar no Brasil. Ester Barbosa pesquisa Hipátia de Alexandria, filósofa que conheceu assistindo a um filme quando estava no Ensino Médio Graças a iniciativas de professoras e professores em todo o país, as filósofas, assim como as teorias feministas, têm sido incluídas nas bibliografias dos cursos, desde o Ensino Médio até os cursos de pós-graduação. É o que a professora Dra. Joana Tolentino faz no Colégio Dom Pedro II, no Rio de Janeiro. Joana, junto a outras professoras e professores, conseguiu garantir a presença de obras de mulheres filósofas que foram excluídas do cânone filosófico nas bibliografias dos três anos de Ensino Médio. O mesmo deve acontecer no curso de licenciatura em filosofia, cuja primeira turma se inicia neste ano de 2020. “Tivemos a preocupação de fazer constar na bibliografia básica das ementas das disciplinas pelo menos a obra de uma filósofa. Acredito na potência dessas inclusões no ensino da filosofia, tanto na educação básica, quanto na formação de professoras/es, a fim de superar os apagamentos e seus efeitos epistemicidas, alterando o panorama da filosofia e de seu ensino”, comenta Tolentino. A muitos quilômetros dali, a professora Maria Cristina Longo realiza o mesmo esforço de Tolentino de incluir obras de filósofas invisibilizadas no programa de pós-graduação da UFRN, em Natal. Os estudos da professora, em Economia e Filosofia, se voltam para a compreensão de questões éticas, políticas, de justiça social e felicidade humana. Ao tentar entender as causas da opressão dos seres humanos, foi inevitável que Longo se dedicasse à compreensão do machismo e do sexismo. Desde 2018, então, ela realiza o trabalho de incluir mulheres filósofas em sua bibliografia, principalmente aquelas que desenvolveram teorias feministas. Neste caminho, a professora acabou por trazer para dentro do departamento de Filosofia o trabalho de autoras que ainda seguem à margem da área: Angela Davis e Silvia Federeci. O resultado é que outras mulheres acabam trilhando o caminho que vai se abrindo. “Estou orientando uma aluna de mestrado que estuda a relação de Angela Davis com o feminismo liberal. Outras duas alunas de doutorado estudam John Stuart Mill e Marx respectivamente, mas pretendem incluir em seus trabalhos vertentes feministas ligadas a estas correntes de pensamento. No meu departamento as professoras Cinara Nahra e Monalisa Carrillo também estão fazendo isso”, diz Maria Cristina se referindo ao exercício de ampliar o cânone e incluir mulheres nas bibliografias dos cursos. O incômodo que transforma Hoje Joana e Maria Cristina estudam e ensinam filósofas, mas enfrentaram um percurso de formação em que as mulheres filósofas estavam ausentes nas bibliografias e pesquisas, o que incomodava as professoras. Maria Cristina Longo conta que fez graduação em economia e filosofia, mestrado e doutorado em Filosofia e “em nenhum destes momentos da minha formação houve uma mulher na bibliografia. Lembro-me apenas de estudar mulheres como comentadoras de autores como o livro de Isabel Limongi sobre Hobbes, textos de Yara Frateschi sobre o mesmo tema ou textos de Marilena Chauí sobre Spinoza, mas mesmo como comentadoras a menção a mulheres foi muito pequena”, comenta. Com Tolentino não foi diferente. A professora conta que sua experiência de formação em Filosofia foi bastante tradicional, com um viés histórico forte, restrita ao cânone masculino e nortecentrado. “Para não dizer que não estudei nenhuma filósofa na minha graduação, conseguimos, com muito esforço, que um professor com mais diálogo com os estudantes oferecesse uma eletiva sobre Hannah Arendt. Mas lembro-me do seu desconforto, uma vez que não era especialista nessa filósofa e por isso lecionar sobre esse recorte o constrangia”, comenta. Do incômodo e das lacunas nas formações das professoras, contudo, nasceram as mudanças. Durante os estudos para a tese de doutorado sobre ensino de filosofia, Tolentino passou um período pesquisando na Universidade de Buenos Aires (UBA). Ali, percebeu que o Brasil tem um cânone filosófico ainda mais excludente do que de outros países latinoamericanos, como a Argentina, o que a mobilizou a fazer um projeto chamado “Dossiê filósofas”. “Terminei a tese com pouquíssimos referenciais de mulheres na minha bibliografia e percebi que essa era a maior lacuna na minha formação, depois de todo um ciclo de graduação, mestrado e doutorado concluídos. Dois meses depois elaborei o projeto "Dossiê filósofas" a fim de empreender uma pesquisa apaixonada, engajada e militante sobre as mulheres na filosofia, caminho que só me foi possível trilhar fora da academia, como autodidata”, compartilha. Caminhos abertos A realidade da geração de Ester já se mostra diferente da de Maria Cristina e Joana. Diferentemente das professoras, Ester teve acesso, ainda na graduação às obras de Simone de Beauvoir, Joan Scott, María Lugones, Chantal Mouffe, Audre Lorde, Judith Butler, bell hooks e Christine de Pizan. Sarah Bonfim, mestranda da Unicamp também faz parte da geração que tem usufruído desse caminho que se abre, pouco a pouco, por outras professoras mulheres que vieram antes. Sarah fez graduação na UFABC, onde teve contato com obras de pensadoras como Hannah Arendt, Elizabeth da Boêmia, Nancy Fraser, Seyla Benhabib e Susan Okin. Sarah Bonfim, mestranda em Filosofia na Unicamp, no campus da Universidade de Notre Dame, onde realizou estágio de pesquisa nos últimos meses. “Geralmente, quem nos apresentava as filósofas eram as professoras do curso. Em especial, lembro do meu primeiro contato com a Nancy Fraser, na disciplina de Ética e Justiça, curso obrigatório do Bacharelado em Ciências Humanas, com a professora Aléxia Bretas. Fiz também uma disciplina de Ética Contemporânea com a professora Nathalie Bressiani, cujas principais bibliografias eram de autoras mulheres. Outras professoras como Anastasia Itokazu, Suze Piza, Luciana Zaterka e Marília Pisani também incrementavam suas disciplinas com pensamentos não só de mulheres europeias, mas de outras nacionalidades e etnias”, comenta Sarah. Contudo, sua pesquisa de mestrado tem como tema o pensamento de Mary Wolstonecraft e o estudo da filósofa no Brasil, de acordo com a experiência de Sarah, é quase inexistente - ela cita apenas alguns artigos e uma tradução de Ivânia Poucinho. O caminho acadêmico de Sarah nos mostra como a presença das mulheres nos corpos docentes e nas bibliografias de curso tem mudado nos últimos anos, mas ainda há obstáculos a serem superados. Ser autodidata ainda é uma possibilidade que muitas pesquisadoras de Filosofia encontram para estudarem filósofas. Ao ter o pensamento de Wolstonecraft como seu objeto de pesquisa, Sarah percebeu como seu trabalho ainda é solitário. A mestranda está sempre em busca de outras pesquisadoras que trabalhem a autora, aqui e fora do país. “Comecei a procurar bibliografias online, que em sua maioria, eram em inglês. Entrei em contato com alguns especialistas estrangeiros que me ajudaram a entender como funcionava o pensamento da filósofa inglesa. É um pensamento riquíssimo, mas em virtude da bibliografia ser em língua estrangeira e, ainda não haver um grupo consolidado de estudo sobre ela, por vezes é um trabalho solitário”, comenta a pesquisadora que acabou de voltar de um estágio de pesquisa na Universidade de Notredame, onde trabalhou sob orientação de Eileen Hunt Botting, que tem alguns livros publicados sobre o estudo tanto de Mary Wollstonecraft quanto da filha da filósofa, Mary Shelley. Mulheres na bibliografia, mulheres nos espaços A presença das obras de filósofas nas bibliografias e nas pesquisas não significa apenas uma maior visibilização destes trabalhos que ficam à margem do cânone. Eles acabam por influenciar a maior presença das mulheres na Filosofia, em si. A pesquisa publicada pela professora Carolina Araújo (UFRJ) em 2019 comprova que as mulheres são minorias na área e sua presença diminui pela metade nos estratos mais altos da carreira. O sentimento das mulheres da área, indica Ester, aluna de graduação, é o de que precisa constantemente provar algo. O cenário é ainda mais perverso quando consideramos outros marcadores que atravessam a área no Brasil, como raça e classe. “Eu sou a filha mais velha de uma empregada doméstica e escolhi cursar filosofia e me tornar professora no Brasil. Acho que no mínimo preciso provar pra mim mesma que posso viver disso, ademais para todo o mundo. É uma angústia constante de me perguntar se leio o bastante, se escrevo e me comunico bem, se meu trabalho é relevante. Isso é cansativo e nada saudável, mas comum, e algo que vejo acontecer com a maioria das mulheres no meio acadêmico, e nem tanto com homens”, desabafa. Por outro lado, Ester reconhece que a presença de outras mulheres na área, como as professoras e colegas do projeto de extensão, fazem a jornada mais leve. “Felizmente eu tenho bons modelos nos quais me inspirar e com quem conversar. Elas me trazem de volta sempre que eu me pego duvidando de mim ou do meu trabalho. Acho que o melhor de ser mulher na filosofia hoje é poder compartilhar experiências, trabalhar com outras mulheres, pesquisar sobre filósofas e isso ser reconhecido”, afirma. De acordo com a experiência que vivem, Joana e Maria Cristina acreditam que o trabalho de incluirem filósofas nos cursos provoca um impacto simbólico: as meninas e mulheres começam a perceber que essa área também é delas. Segundo Joana, é uma experiência que pode ser entendida como atravessamento simbólico crucial para chacoalhar padrões de nossos processos de subjetivação. “Antes, a filosofia parecia restringir-se ao mundo dos homens, mas agora há a afirmação de corporalidades de mulheres sendo reconhecidas e estudadas por suas filosofias. Associado a isso vem a abertura de novos possíveis: "se há mulheres fazendo filosofia desde sempre em diferentes culturas e lugares do mundo, eu, que me identifico como mulher, também posso filosofar", compartilha. Maria Cristina Longo compartilha do mesmo sentimento. Segundo a sua experiência, as alunas dizem que se sentem com mais força para estudar filosofia. “Lembro-me de uma aluna que explicitamente disse: "se elas conseguiram ser ouvidas e publicar livros a respeito, penso que também conseguiremos”, diz a professora. Os alunos também são positivamente impactados nesse processo, conta. “Eles tomam parte na discussão do tema e passam a repensar as posturas sociais e suas próprias posturas a partir da leitura de mulheres filósofas que abordam o feminismo. Em rodas de conversa sobre filósofas feministas eles repensam suas posturas, de seus amigos e familiares sobre a questão do jugo das mulheres”, diz Maria Cristina. Ainda que se sinta um tanto solitária na sua trajetória de pesquisa, Sarah Bonfim diz sentir-se no ombro de outras gigantes: “não só de grandes pensadoras, como Wollstonecraft, mas de professoras e outras colegas estudantes que vieram antes de mim e lutaram contra o preconceito e a misoginia, pavimentando o caminho”. Sarah compara seu trabalho e de outras colegas como um grande bordado. “Um grande trabalho coletivo, que envolve não apenas o trabalho prático de transpassar o tecido (cânone) com a linha (as filósofas), mas também é um trabalho afetivo, de reconhecimento de vozes apagadas e que precisam ser costuradas no grande tecido que é a filosofia. Em resumo, vejo que ser mulher na filosofia, que estuda outras mulheres, requer a paciência, a sensibilidade e o pensamento de bordadeira, cujo objetivo é o de apresentar um trabalho que não só adorne, mas também faça repensar e rever nosso lugar no mundo”. #redebrasileirademulheresfilosofas #futurasfilosofas #filosofasOrg #anpof
- Angela Davis, Naomi Klein e o rising majority on line
Assista ao debate on line, dia 2 de abril às 20:00 no horário de Brasília. #filosofasemquarentena #angeladavis #naomiklein #redebrasileirademulheresfilosofas
- Filosofia Africana desde os Saberes Ancestrais Femininos: bordando perspectivas de descolonização
FILOSOFIA AFRICANA DESDE SABERES ANCESTRAIS FEMININOS: BORDANDO PERSPECTIVAS DE DESCOLONIZAÇÃO DO SER-TÃO QUE HÁ EM NÓS Adilbênia Freire Machado Resumo: Esse artigo tem o intuito de dialogar com os saberes ancestrais femininos desde a filosofia africana com intuito de refletir acerca da descolonização do ser-tão que há em nós, tendo as filosofias da ancestralidade e do encantamento como fios que tecem esses diálogos formativos. Dialogamos desde saberes tecidos por mulheres negras que bordam experiências coletivas, irmanadas, ancestrais e encantadas desde com-partilhas de seus dons, suas vivências, experiências e saberes. Compreendendo nossos corpos como templos ancestrais, nos fortalecendo coletivamente, nos encantando e lutando diariamente pela descolonização do ser-tão desde uma relação comunitária e ancestral, delineada pela natureza e o tempo, sabendo que é fundante inter-PRETAR o cotidiano, os acontecimentos, insurgir e transformar... transfor-A-MAR! O encantamento tecido pela ancestralidade é um ato contínuo de transfor-AMAR e a filosofia africana é oriunda desse encantamento. Palavras-Chave: Filosofia Africana; Saberes Ancestrais Femininos; Transfor-AMAR; Descolonização do ser-tão. Natureza e Tempo.
- Adiado o lançamento de "Freud e o patriarcado"
Carxs, em virtude do alarmante perigo de proliferação do coronavirus, decidimos cancelar o evento de lançamento de "Freud e o patriarcado", que seria realizado na quinta-feira próxima (19/03) na Casa Plana. Tão logo a situação se normalize, teremos uma nova data para celebrar, debater e lançar o livro. Contamos com a compreensão de todxs. Abraços, Alessandra Martins Parente e Léa Silveira
- BLOG MULHERES NA FILOSOFIA
ANPOF 8M - CONHEÇA INICIATIVAS Portal de divulgação científica das obras de mulheres filósofas e dos temas por elas tratados bem como da apresentação da diversidade de teorias feministas que embasam a reflexão sobre o lugar das mulheres na História da Filosofia e na sociedade. Instituição: Unicamp Proponentes: Yara A. Frateschi, Carolina Araújo, Gisele Secco, Nastassja Pugliese e Nádia Junqueira Ribeiro










