GT FILOSOFIA E GÊNERO
Resultados da Busca
1110 resultados encontrados com uma busca vazia
- Carol Gilligan por Ilze Zirbel: As pensadoras agora em nosso canal
Ilze Zirbel apresenta a Ética do Cuidado a partir do pensamento de Carol Gilligan, tratando de temas como desenvolvimento moral, essencialização do feminino e dilemas morais. Esse vídeo integra a primeira série do projeto As Pensadoras, coordenado por Rita Machado (UEA), que tem por objetivo divulgar a contribuição da obra de mulheres para a história do pensamento e para os feminismos. Veja o programa de curso e a bibliografia em https://www.filosofas.org/post/copy-of-curso-on-line-as-pensadoras-abertas-inscrições-turma-3 ILZE ZIRBEL é Graduada em História e Teologia, com mestrado em Sociologia Política e doutorado em Filosofia. Atualmente faz seu pós-doutorado em Filosofia na Universidade Federal de Santa Catarina e participa do projeto “Uma filósofa por mês”. Questões e teorias feministas têm sido seu fio condutor em meio a interdisciplinaridade de sua trajetória, com ênfase em Ética, Teoria Política, História da Filosofia e Epistemologia. Lattes: http://lattes.cnpq.br/8740728758861601 #redebrasileirademulheresfilosofas #filosofasOrg #aspensadoras #carolgilligan #ilzezirbel
- Estreia das Pensadoras opinando na imprensa!
Publicamos hoje o artigo "Finalmente haverá chegado o tempo das mulheres?", escrito pela nossa querida professora Viviane Botton para o Le Monde Diplomatique Brasil. Neste texto, ela nos oferece um generoso panorama da onda feminista que toma a América Latina. Vivi é coordenadora do curso As Pensadoras Latinoamericanas e nos indica, nesse texto, a atualidade e necessidade desse curso para as lutas de nosso tempo. As inscrições ainda estão abertas! Leia o artigo completo aqui. https://diplomatique.org.br/finalmente-havera-chegado-o-tempo-das-mulheres/
- Ensino Médio e Pós-Graduação em Filosofia no Brasil
Joana Tolentino, Taís Silva Pereira, Aline do Carmo e Franciele Santos encerram, com mediação de Marília Pisani, o ciclo de debates sobre a Pós-Graduação em Filosofia no Brasil com uma mesa especial sobre Ensino Médio e Pós-Graduação. É sexta-feira, às 18:00hs, no Canal YouTube da Rede: https://www.youtube.com/c/RedeBrasileiradeMulheresFilósofas #redebrasileirademulheresfilosofas #filosofasOrg #filosofasbrasil #posgraduaçãoemfilosofia
- Mulheres debatem Michel Foucault
O canal Parresiando convida para uma série de palestras que acontecerá nas segundas-feiras às 18hs no YouTube. https://www.youtube.com/channel/UCop9boQAHadUmO7eWvdG9Jw/videos Programação · Dia 07/12- Roberta Damasceno (Doutoranda UERJ) · Dia 14/12 - Profa. Dra. Priscila Viera (UFPR) · Dia 28/12 - Priscila Cupello (Doutoranda UFRJ) · Dia 11/01 - Raquel Rocha (Doutora UFRJ) · Dia 18/01 - Profa. Dra. Regiane Collares (UFCA) · Dia 25/01 - Profa. Dra. Cristiane Marinho (UECE) · Dia 01/02 - Profa. Dra. Maria Emília Barros (UFS) · Dia 08/02 - Cassiana Lopes (Doutora UFPR) · Dia 01/03 - Profa. Dra. Giovana Temple (UFRB) · Dia 08/03 - Profa. Dra. Juliana Aggio (UFBA) · Dia 15/03 - Profa. Dra. Margareth Rago (UNICAMP) · Dia 22/03 - Profa. Dra. Rosângela Tenório (UFPE) · Dia 29/03 - Viviane Botton (Pós-doutoranda Uerj) Canal criado por Priscila Cupello com o intuito de dar visibilidade para as pesquisas acadêmicas e discutir, principalmente, temas relacionados à filosofia, ciência política, educação, antropologia e economia. Inscreva-se no canal e ative o sininho para não perder nenhuma palestra. Sigam nossas redes sociais: https://linktr.ee/parresiando @parresiando Confira programação completa no link: https://www.even3.com.br/parresiando/ Apoio: Red de Mujeres Filosofas de America Latina (Unesco) Rede Brasileira de Mulheres Filósofas Grupo de pesquisa Subjetividade no pensamento contemporâneo (CNPq) Núcleo de Pesquisa e Extensão Filosófica (NUPEF/UFRB) Grupo de Estudo Independente Mulheres e Filosofia Grupo de Pesquisa Filosofia e Teoria Política (CNPq) Conversações Filosóficas #redebrasileirademulheresfilosofas #filosofasorg #filosofasbrasil
- Com início no próximo sábado, das 9:30 às 12:30, Minicurso Teorias do Cuidado.
Minicurso Teorias do Cuidado Professoras: Daniela Rosendo e Ilze Zirbel Ementa: O minicurso abordará, sob o enfoque da Filosofia Feminista, a temática do Cuidado aplicada a três campos distintos e interligados entre si: o da Ética, o da Política e o da Ecologia. Organizado em três aulas, a primeira tratará do surgimento da Ética do Cuidado na década de 1980, sua expansão em meio à Filosofia Feminista e as implicações críticas dela tecidas para repensar o campo da Filosofia Moral. Na segunda aula, a discussão focará no potencial teórico-político que a Ética do Cuidado adquiriu nos últimos anos, discutindo questões que interferem significativamente no núcleo do sistema de gênero (o espaço doméstico-familiar) e nas formas de organização e condução da sociedade. Por fim, será abordada a Ética Sensível ao Cuidado que, sob a perspectiva ecofeminista, busca a complementaridade entre parcialidade e imparcialidade na ética, seja para humanos ou outros que não humanos, associada a uma perspectiva de justiça plural. Conteúdo programático - O surgimento da Ética do Cuidado e suas discussões centrais (o antropocentrismo das teorias; a predominância da justiça em discussões morais; a problematização da dependência; práticas do cuidado etc. - A Ética do cuidado para repensar o campo da Filosofia Moral - A centralidade dos valores e atividades do cuidado para o estabelecimento, funcionamento e manutenção da vida e da sociedade - O Cuidado como um operador crítico às teorias políticas tradicionais - O efeito negativo e desigual sobre a liberdade, a igualdade e capacidade de autonomia e escolha das mulheres por conta da desigualdade de distribuição de responsabilidades e benefícios relativos ao cuidado no espaço familiar e no mundo do trabalho assalariado (e que tocam os temas da assimetria procriativa; da irresponsabilidade privilegiada; da violência, domínio e proteção tanto no plano das relações íntimas e familiares quanto no das práticas culturais e seus reflexos no sistema legal; etc.) - Estruturas conceituais opressoras (dualismos de valor hierárquico e lógica da dominação); Dicotomia justiça/cuidado, público/privado, político/íntimo etc. - O Cuidado para além das fronteiras da espécie: contribuições ecofeministas para a moralidade e a justiça. Cronograma das aulas 14/11 9h30 às 12h30 21/11 9h30 às 12h30 Metodologia As aulas serão realizadas online, pela plataforma Sympla Streaming. Na primeira parte da aula as professoras irão fazer a exposição do conteúdo e, ao final, serão respondidas as questões que deverão ser formuladas por escrito. Em cada aula, uma das professoras irá acompanhar o chat durante a parte expositiva para direcionar às questões e comentários. Referências ENGSTER, Daniel. The Heart of Justice. Care Ethics and Political Theory. Oxford University Press, 2007. FRIEDMAN, Marilyn. Beyond Caring: The De-Moralization of Gender. In: MEYERS, Diana T. (Ed.). Feminist Social Thought: A Reader. New York: Routledge, 1997, p. 665-679. GARRAU, Marie e LE GOFF, Alice (ed.). Politiser le care? Perspectives Sociologiques et Philosophiques, Paris: Le Bord de L'eau, 2012. (Coleção “Diagnostics”) ________, Marie. “Care (Éthiques et politiques du)”, In: V. BOURDEAU, V. e MERRIL, R (dir.), DicoPo, Dictionnaire de théorie politique, 2008. Disponível em: . Acesso: 23 de setembro de 2009. GILLIGAN, Carol. Uma voz diferente. Psicologia da diferença entre homens e mulheres da infância à fase adulta. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1982. ________, Carol. Joining the Resistance. Cambridge: Polity: 2011. KUHNEN, Tânia A. O princípio universalizável do cuidado: superando limites de gênero na teoria moral. Floranópolis, 2015, 383 f. Tese (Doutorado em Filosofia), Programa de Pós-Graduação em Filosofia, Universidade Federal de Santa Catarina. ROBINSON, Fiona. Globalizing Care: Ethics, Feminist Theory, and International Relations. Boulder/Colorado: West View Press, 1999. NODDINGS, Nel. O cuidado: uma abordagem feminina à ética e à educação moral. Trad. Magda Lopes. São Leopoldo: Unisinos, 2003. ROSENDO, Daniela. Sensível ao cuidado: Uma perspectiva ética ecofeminsta. Curitiba: Editora Prismas, 2015. ROSENDO, Daniela. Quilt Ecofeminista Sensível ao Cuidado: uma concepção de justiça social, ambiental e interespécies. 2019. 237 f. Tese (Doutorado em Filosofia) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2019. SEVENHUIJSEN, Selma. Citizenship and The Ethics of Care. Feminist Considerations on Justice, Morality and Politics, New York: Routledge, 1998. TRONTO_____. Moral Boundaries. A Political Argument for an Ethic of Care, New York: Routledge, 1993. TRONTO, Joan C. “Assistência democrática e democracias assistenciais”. Sociedade e Estado. Brasília, v. 22, n. 2, Agosto 2007. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S0102-69922007000200004&lng=en&nrm=iso. Accesso: 17 de maio de 2011. WARREN, Karen. Ecofeminist Philosophy: a Western Perspective on What It Is and Why It Matters. Rowman & Littlefield Publischers, 2000. ZIRBEL, Ilze. Uma teoria Político-Feminista do Cuidado. Florianópolis, 2015. Tese (Doutorado em Filosofia), Programa de Pós-Graduação em Filosofia, Universidade Federal de Santa Catarina. Sobre as professoras Daniela Rosendo é Doutora e Mestra em Filosofia (UFSC), e graduada em Direito (Univille). Com experiência no terceiro setor e na docência/coordenação no ensino superior, realiza atualmente um estágio pós-doutoral no Programa de Pós Graduação em Filosofia da Universidade Federal de Santa Catarina e dedica-se ao desenvolvimento de um projeto de educação ecofeminista. Pesquisadora do Núcleo de Ética Prática (NuEP) da UFSC, do Laboratório de Ética Ambiental e Animal (LEA) da UFF e do Marginais: Grupo Interdisciplinar de Pesquisa sobre Minorias e Exclusões, da Universidade Federal do Oeste da Bahia. Ilze Zirbel é Doutora em Filosofia (UFSC); Mestre em Sociologia Política (UFSC) e graduada em História (FURB) e Teologia (EST). Terminou recentemente um período de pesquisa pós-doutoral no Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade federal de Santa Catarina. Tem experiência na docência no ensino superior e Médio. Suas pesquisas, da graduação doutorado, deram-se no campo dos Estudos Feministas. Atualmente participa do projeto "Uma filósofa por mês", de recuperação e divulgação da obra de filósofas de variadas épocas e locais.
- TÁ NO AR!
O site da Escola As Pensadoras está no ar! Isso significa que agora temos um espaço bem nosso para reunir tudo o que a gente faz, nos interessa e nos une! Ali você vai conseguir se inscrever em nossos cursos, minicursos, oficinas e fórum. Também vai poder acompanhar a agenda da nossa escola, conhecer nossa história, quem faz o trabalho aqui por trás, nossas professoras, comprar produtos e livros. Como aluna, você vai ter acesso a um espaço com todo material do seu curso. Demais, né? Venha conhecer nosso site, salve nos favoritos e aproveite para se inscrever em nosso novo curso: As Pensadoras Latinoamericanas! Confira abaixo algumas informações sobre o curso e o calendário! 👇🏾 INSCRIÇÕES ABERTAS! Olá, pensadoras! Estão abertas as inscrições para o nosso novo curso ‘As Pensadoras Latinoamericanas’. A aula inaugural será ao vivo pelo nosso canal no youtube e aberta ao público em geral! A Conferência de Abertura “Mulheres indígenas e a colonização” acontecerá no dia 16/11 às 18:30. Serão duas turmas e você tem a opção, caso perca alguma atividade, de assistir as aulas até 30 dias apó o término do curso! As inscrições custam R$85 para estudante e R$110,00 para profissional. A Escola disponibilizará um certificado de 20 horas e as atividades acontecerão nas plataformas Google Meet e Google Classroom. LINK DE INCRIÇÃO Brasil e América Latina: https://forms.gle/rEaBQEpjCk3iVXE97 E-MAIL PARA INFORMAÇÕES: pensadoraslatinas@gmail.com
- Red Latinoamericana de Estudos sobre Mulheres na Historia
Foi criada a Red Latinoamericana de Estudos sobre Mulheres na Historia. Iniciativa pioneira das Pesquisadoras Silvia Manzo (Argentina), Teresa Rodriguez (Mexico), Viridiana Benitez (Colombia) e Katarina Peixoto (Brasil). A Red será lançada oficialmente no próximo dia 09 de novembro, com uma atividade de encerramento do " Coloquio de “Mujeres filósofas y pensamiento feminista” de Universidad El Bosque, com uma apresentação de Emily Thomas, da Universidade de Durham, no link: https://www.youtube.com/watch?v=J35Ibzfsx6c Título da Apresentação de Thomas: "On Unfeminine Philosophers, lady travellers, and Mary Wollstonecraft". Qualquer dúvida, contacte-nos: redlatfilosofasenlahistoria@gmail.com Página no Facebook: https://m.facebook.com/story.php?story_fbid=102686558322059&id=102676878323027
- Mulheres que leem mulheres: Maria Walkíria Cabral lê Drucilla Cornell
Dando continuidade ao projeto "Mulheres que leem Mulheres", uma parceria da Rede Brasileira de Mulheres Filósofas com o Laboratório Filosofias do Tempo do Agora (Lafita/UFRJ) , publicamos hoje nosso sétimo vídeo no canal do Youtube da Rede. A cada 15 dias, sempre aos sábados, pesquisadoras brasileiras apresentarão filósofas com o objetivo de ampliar a visibilidade do trabalho de mulheres na filosofia. No sétimo vídeo da série, a professora Maria Walkiria Cabral (IPPUR/UFRJ) apresenta a filósofa estadunidense Drucilla Cornell.
- Filósofas Debatem
O coletivo Filósofas na Rede, no mês de novembro, em que se comemora o dia mundial da Filosofia, convidam toda a comunidade acadêmica e filosófica a participarem do "Filósofas Debatem". Trata-se um ciclo de encontros realizados em parceria com a Rede de Mulheres Filósofas da América Latina Redeem/UNESCO que contará com a presença de Filósofas do Brasil e da América Latina. Os debates acontecerão no canal de YouTube Filosofas Na Rede nas seguintes datas: 1/11 domingo às 16h - Filósofas debatem Lógica e Metafísica “As relações entre gênero e linguagem” Mediadora: Nastassja Pugliese (UFRJ) Convidadas: Diana Inés Pérez (UBA) Nara Figueiredo (UNICAMP) Gisele Secco (UFSM) 8/11 domingo às 16h - Filósofas debatem Epistemologia e Ciência “América Latina na produção de conhecimento” Mediadora: Maria Helena Soares (UERJ) Convidadas: Ana Matías Rendón (UNAM) Carolina D’Almeida (UFRJ) Halina Leal (FURB) Leticia Minhot (Universidad Nacional de Córdoba) 14/11 sábado às 16h - Filósofas debatem Estética e Arte “Mulheres na Filosofia: corpo, arte, aesthesis” Mediadora: Marcela Tavares (IFRJ) Convidadas: Débora Pazetto (UDESC) Ana María Martíneza de la Escalera (UNAM) Cidah Duarte (UERJ) Cíntia Vieira (UFOP) 22/11 domingo às 16h - Filósofas debatem Ética e Política “ O avanço do conservadorismo e as lutas de resistência na América Latina” Mediadora: Carina Blacutt (SEDUC) e Penélope Diniz (MST) Convidadas: Maria Isabel Limongi (UFPR) Rita de Cassia Fraga Machado (UEA) Margareth Rago (UNICAMP) Maria Clara Dias (UFRJ) Dirce Eleonora Solis (UERJ) 29/11 domingo às 16h - Filósofas debatem Estudos de Gênero “O papel da filosofia nas lutas latino-americanas” Mediadora: Juliane Leão (UERJ) Convidadas: Susana de Castro (UFRJ) Maria Helena Soares (UERJ) Alejandra Ciriza (UMA) Carla Rodrigues (UFRJ) As temáticas versam sobre questões que atravessam os assuntos presentes nas grandes áreas da Filosofia, sob a perspectiva das reflexões produzidas e teorizadas por mulheres.
- Por que o feminismo deve ser também socialista?
ROBERTA DA CUNHA RODRIGUES (UFRN) robertadacunha29@gmail.com http://lattes.cnpq.br/4579155903831473 Dissertação de mestrado Orientadora: Maria Cristina Longo Cardoso Dias Data prevista de defesa: 15/03/2021 Fonte da imagem: https://mirmexico.mx/wp-content/uploads/2017/06/FEMINISMO-1200x640.jpg Os movimentos de mulheres que se fundamentam em perspectivas éticas e políticas liberais historicamente demonstraram serem insuficientes e problemáticos diante das demandas sociais e políticas dos mais variados grupos que compõem a sociedade, pois não alcançam a raiz que fundamenta as opressões e se mantém na superfície do problema. Tal insuficiência se deve ao fato de que a tradição do feminismo liberal trata a questão da subordinação feminina como uma questão autônoma, desvinculada das outras opressões provocadas e acentuadas pelo modo de produção capitalista, como pode ser observado na obra de Betty Friedan. Para compreender essa problemática, será necessário explorar a teoria do valor de Karl Marx e, partindo de autoras como Silvia Federici, Heleieth Saffioti, Angela Davis e Ana Montenegro, entender como o modo de produção capitalista acentua todas as opressões, sejam elas de classe, raça ou gênero, e se beneficia das mesmas para a sua manutenção e para o avanço do capital. São as mulheres que, além de trabalharem no âmbito da produção, trabalham também no âmbito da reprodução da força de trabalho, realizando as atividades que permitem que trabalhadores estejam sempre prontos para ser explorados, sem receber remuneração para isso, ou recebendo uma baixa remuneração em condições insalubres, na periferia do sistema de produção. É preciso entender quais as causas desses fenômenos, o que faz com que as mulheres, sobretudo as mulheres negras, permaneçam nessas condições, pois, mesmo que o modo de produção capitalista não tenha criado a inferiorização das mesmas, ele se aproveita dessas condições, aprofundando ainda mais as desigualdades. Sendo assim, não só o sexo, mas também a raça são elementos utilizados pelo modo capitalista de produção para acentuar as desigualdades e manter grupos em condições em que sofrem intensificação do trabalho, extensão da jornada e salários mais baixos. Para isso, será necessário entender melhor, a partir das sociedades pré-capitalistas, como se deu o processo de acumulação primitiva e desenvolvimento do modo de produção capitalista. Para sustentar todo o processo de expropriação, exploração e escravização na acumulação primitiva, foi necessário transformar os corpos, em geral, em máquinas de produção, e os corpos das mulheres, em particular, em máquinas de reprodução da força de trabalho. Sendo assim, a divisão sexual do trabalho tornou as mulheres seres dependentes do salário dos homens e, a partir disso, garantiu que o Estado e os empregadores se beneficiassem, a partir do salário masculino, do trabalho não remunerado feminino. Mesmo quando o mercado de trabalho absorve mulheres, essas continuam sustentando duplas e triplas jornadas de trabalho (incluindo empregos formais, trabalho doméstico, cuidados familiares com filhos e etc.) sem a devida remuneração. Ou seja, o modo de produção capitalista se beneficia tanto da inserção da mulher no mercado de trabalho, como também do seu afastamento e confinamento no ambiente doméstico. No primeiro, com o aumento da concorrência, e no segundo com a não remuneração de atividades que não são consideradas como trabalhos. O modo de produção capitalista precisa criar subcategorias de trabalhadores que permaneçam no chamado exército de reserva para lançar mão deles sempre que necessário, mantendo uma grande fila de espera e concorrência alta pelos postos de trabalho, forçando os trabalhadores ao sobretrabalho e à submissão absoluta. Para isso, o sistema se utiliza de desigualdades já existentes em sociedades pré-capitalistas para criar marcas sociais que permitem maior exploração, ou seja, é a partir da desumanização ou inferiorização de certos grupos que se torna aceitável e se legitima que eles sejam ainda mais explorados. No caso das mulheres, são identificadas como seres inferiores junto aos trabalhos de reprodução social que são invisibilizados por não produzirem mercadorias (apesar de produzirem a mais importante mercadoria, a força de trabalho). Um dos principais aspectos utilizados como base de argumentação para a inferiorização social da mulher na sociedade capitalista são suas características biológicas. Isso porque o objetivo do lucro exige que o capitalista racionalize todas as suas escolhas tendo sempre em vista a exigência máxima de produção de seus funcionários, fazendo com que a maternidade sirva de justificativa para mantê-la na periferia do capital. Entretanto, as atividades de reprodução social, sendo apropriadas pela sociedade como um todo, não podem ser consideradas atividades privadas das mulheres, devem ser socializadas a partir da ampliação de creches e escolas, serviços domésticos justamente remunerados (pois as empregadas domésticas sofrem fortemente com os baixos salários e altas taxas de exploração), licença remunerada, cozinhas e lavanderias comunitárias. Tais reivindicações só possuem espaço muito limitado dentro dos moldes de acumulação do capital, pois representam grandes gastos que podem ser evitados com a desvalorização das mulheres e, por isso, neste modo de produção, a mulher nunca terá suas reivindicações atendidas, mas apenas soluções parciais, uma vez que são essas desigualdades atribuídas a certos grupos (mulheres, negros e negras, indígenas, imigrantes, LGBT’s, pessoas com necessidades especiais) que mantém o equilíbrio desse modo de produção fundado na desigualdade. É nesse sentido que surge a necessidade de compreender o que há por trás das opressões sofridas pelas mulheres, entendendo que o feminismo não pode ser compreendido como um movimento político autônomo que busca somente a igualdade de gênero a partir de mudanças morais na construção da autonomia feminina a partir de soluções individuais, como propõe Friedan. Para Friedan, a libertação da mulher se limita à sua busca pela própria identidade. Nesse sentido, modificar o pensamento e o comportamento das mulheres a partir da transformação da cultura e da educação é suficiente para atingir a finalidade da libertação, mesmo que essa possibilidade só exista para um número muito restrito de mulheres que possui diversos privilégios de raça e classe. Essa perspectiva moraliza uma questão que demanda uma análise materialista-histórica e uma ruptura dentro do modo de produção antes de se deter nos aspectos subjetivos. Isso não significa que esses aspectos não sejam relevantes, mas que eles são insuficientes para realizar uma análise completa e profunda sobre as questões feministas. Referências bibliográficas: DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. Trad. Heci Regina Candiani. São Paulo: Boitempo, 2016. FEDERICI, Silvia. Calibã e a bruxa: Mulheres, corpo e acumulação primitiva. Tradução coletivo Sycorax. São Paulo: Elefante, 2017. FRIEDAN, Betty. Mística Feminina. Trad. Áurea B. Weissenberg. Rio de Janeiro: Vozes Limitada, 1971. MARX, Karl. O Capital: crítica da economia política; Livro I. Tradução de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013. MONTENEGRO, ANA. Ser ou não ser feminista. Recife: Guararapes, 1981. SAFFIOTI, Heleieth. A mulher na sociedade de classes: mito e realidade. 3. Ed. – São Paulo: Expressão Popular, 2013. .............................................................................................................................................................. A coluna Em Curso divulga as pesquisas de pós-graduandas na filosofia para contribuir para a visibilidade das pesquisas de filósofas no Brasil. Quer publicar a sua pesquisa? Basta preencher o formulário. #redebrasileirademulheresfilosofas #filosofasOrg #emcursofilósofas #filósofasbrasil #mulheresnapesquisaemcurso #feminismo #mododeprodução #socialismo #autoras As informações sobre a pesquisa e a imagem divulgadas são de responsabilidade da autora da pesquisa.
- Histeria, mulher e feminino
Mais do que uma derivação da palavra grega hystero que denota "útero", e que foi utilizada para caracterizar um conjunto de sintomas nas mulheres em diferentes épocas, a Histeria foi um diagnóstico que marcou muito especificamente o nascimento da medicina psiquiátrica como ciência na segunda metade do século XIX e contribuiu ao surgimento da psicanálise no século XX. Isso se cruza e atravessa a história das mulheres - e também a dos homens- no Ocidente, colaborando para a formação de um modo prescritivo de se ser mulher. Explora-se a hipótese de que o termo tenha sido alcunhado por Hipócrates na antiguidade grega para referir-se aos males das mulheres, os corporais e também os da alma. O termo e a enfermidade ganharam visibilidade e uso na linguagem, porém, justamente quando a medicina moderna o associa oficialmente a toda uma série de manifestações comportamentais das mulheres europeias e passa a considerar que elas precisavam ser diagnosticadas, tratadas e curadas. No contexto da neuropsiquiatria e da psicanálise em seus inícios, a Histeria foi uma epidemia dos principais centros urbanos da Europa e se qualificava por uma sintomatologia física e psíquica falsa, já que não correspondia a patologias ou lesões identificáveis nos corpos das enfermas. Vista como uma ilusão ou uma encenação, ainda que não intencional, a Histeria foi elaborada como uma forma de loucura de mulheres, e o interesse em estudá-la e tratá-la apareceu só quando as escolas de neuro-psiquiatria começaram a usar as histéricas como cobaias para suas pesquisas. É claro que, como as histórias de todas as doenças, a da Histeria envolve múltiplos fatores sócio-econômicos e historiográficos, porém uma das principais razões por ter sido especialmente visibilizada e investigada no final do século XIX foi a instalação de novos mecanismos de controle, modernos e capitalistas, dos corpos das populações urbanas e, nesse caso, dos corpos das mulheres. O controle, o cuidado e a intervenção sobre elas foi fundamental ao processo de organização das sociedades europeias em termos de trabalho, produção e consumo, assim como foi a expansão desse modelo às colônias (como o Brasil), para a consolidação e manutenção dos intercâmbios comerciais globais e do controle do capital em circulação sustentado pela interdependência entre a produção e a exploração dos trabalhadores(as). Dessa perspectiva, a organização das vidas individuais pelo ritmo do trabalho e as guerras internacionais caracterizavam uma nova ordem político-governamental mundial, cujos controles dos nascimentos e da saúde das crianças era fundamental ao funcionamento dos novos Estados Nacionais de Direito. As políticas estatais ocidentais então passaram de modo mais efetivo a dar atenção, controlar e intervir sobre o corpo de suas mulheres. Como nos conta Silvia Federici, o controle dos corpos das mulheres já era exercido durante séculos nos territórios europeus de origem grego-romana, como nota-se na caça às bruxas e na conceituação da carne e do feminino como o corpo do pecado e a encanação do demônio. Porém, com uma configuração política em Estados-Nação se, fez necessário habilitá-las ao trabalho e treiná-las para serem boas reprodutoras de humanos e ainda aproveitar sua força para a criação dos filhos. Em um nova economia social, já não era possível dar-se ao luxo de exterminar seus corpos, como a queima na fogueira, se exigia então o treinamento de seus corpos e um uso controlado deles. Seria apressado dizer, contudo, que a Histeria só funcionou como um diagnóstico de controle das mulheres através da intervenção e do etiquetamento delas como "loucas" para retirar-lhes a credibilidade das palavras e, na maioria das vezes, do convívio social, já que a grande maioria acabava internada nos hospitais psiquiátricos europeus. Também seria redutor dizer que as histéricas foram uma invenção premeditada dos representantes do estado e dos médicos para subordiná-las a seus objetivos reprodutivos, comerciais e bélicos. A Histeria foi uma manifestação das mulheres que espetacularizava suas mazelas, e também pode ser lida como sendo uma maneira de expressão e expansão feminina na época, já que além de ser um modo de chamar a atenção para si (como descreve Freud em seus primeiros trabalhos), também era um modo de existir (e talvez resistir) nas fronteiras entre o apagamento total e a possibilidade de serem livres sendo loucas. Esta tese, apesar de controversa, é instigante. Ela nos é sugerida por Michel Foucault, um homem e um estudioso da loucura, ao entender que na loucura haveria uma espécie de possibilidade de fuga -quiçá não deliberada, mais ainda assim fuga- de tudo o que estrutura as normativas de uma sociedade, de sua discursividade e da padronização das formas de subjetividade. A proposta deve ser avaliada com cuidado e essa é uma das tarefas de meu trabalho como pesquisadora do tema, já que também é preciso não promover com isso o apagamento do sofrimento real vivido pelas histéricas no século XIX e XX. Pensar esta questão, a meu ver, nos habilita a explorar as formas pelas quais a Histeria funcionou como fundamento das normas que regeram as mulheres naquele entre séculos no Ocidente, e também considerar em que medida ainda hoje isso toca nossas normas sociais para as mulheres. A Histeria funcionou na Europa como norma prescritiva a todas as mulheres pelo via do negativo, já que era o comando de como as mulheres não deviam ser. Do mesmo modo, a doença serviu à desqualificação da liberdade expressiva delas, especialmente em seus comportamentos e em sua linguagem. Quando, por alguma razão, não fosse conveniente o que faziam ou diziam, eram avaliadas e diagnosticadas (por médicos homens e sua ciência) como doentes e passíveis de intervenção e tratamento. Se gritavam, eram/estavam histéricas; se choravam, eram/estavam histéricas; se se alteravam, eram/estavam histéricas; se mentiam, eram/estavam histéricas, ... Ao mesmo tempo que a Histeria explicava todos esses fenômenos que precisavam ser rejeitados nas mulheres -e também em homens ao qualificá-los de afemininados-, para que a ordem político-social do sistema patriarco-andro-logo-branco-centrado não fosse afetada, também era providencial o uso do diagnostico para desresponsabilizar as mulheres de suas ações e fragilizá-las ou vitimizá-las, excluindo-as assim do protagonismo social, retirando-as da Ágora, mas preservando-as para a maternidade e o trabalho da criação dos filhos. Neste sentido, a doença (Histeria) e o adjetivo (histérica) persiste para a mulher como uma possibilidade latente e uma ameaça constante de aniquilamento de um estágio ou estado de normalidade presente neste exercício de se ser mulher, e representa a ameaça constante à sua funcionalidade jurídica como sujeito. É claro que o não reconhecimento das mulheres como sujeitos (e sim como objetos) nas sociedades ocidentais não se deve somente à histerização de seus corpos, mas este movimento é significativo na retirada da possibilidade de terem subjetividade e cidadania por meio da atribuição de uma doença. No mesmo sentido, também é significativo o entrelaçamento dos corpos e sua natureza sexual à permissão para o exercício da cidadania, a permissão para possuir bens, e a liberdade de ação e deliberação. Neste sentido, a Histeria constituiu o feminino enquanto imagem e moldura (frame) das mulheres no Ocidente. Como negativo de uma representação a ser reforçada, a Histeria demarca as bordas do normal e contorna a imagem da mulher certa, sã,correta. Marca assim a fronteira que regulou os modos pelos quais todas as mulheres deviam ser/existir e os pelos quais elas deviam agir para não deixarem de ser mulheres, e para jamais se tornarem histéricas. Apesar da perspectiva psicanalítica atual dispensar esta oposição entre normal e patológico e de também já não utilizar o termo para seus diagnósticos, a dicotomia se preserva na linguagem médica e na político-científica dos meios jornalísticos. No início do século XX a Histeria esteve presente nas enciclopédias, nos manuais de puericultura e de obstetrícia, nas representações do feminino e das doenças de mulheres que apesar de não ter organicidade, era atribuída ao gênero. Ao deixar de ser doença, tendo a medicina e a psicanálise redirecionado seus sintomas a outras palavras classificatórias e ordenamentos da psique, a palavra pesistiu como adjetivo atribuível a todos os humanos, mas sua significância se manteve atrelada ao feminino. Na linguagem cotidiana, a palavra seguiu referindo-se à loucura, à mentira, à alteração, à irracionalidade e ao exagero do feminino. O diagnóstico se manteve, portanto, como marcador científico-moral das narrativas que começaram a usa o gênero feminino como elemento de valoração e desqualificação das atitudes. Daí, falar em uma normatividade contra-histérica como inerente à normativa de gênero e a própria heterossexualidade parece fazer todo sentido, já que na medida em que é um marcador da negatividade, do erro ou da falha do feminino, também é um enquadramento normativo positivo do gênero e delimitador de um tipo de performance do feminino como sendo a correta, a aceitável, e a verdadeira. A Histeria assim, continua a condensar a contrariedade que devém parte constitutiva da mulher e que rege as vivências do gênero feminino. Elisabeth Roudinesco, em sua história da psicanálise, enfatiza este aspecto quando nos recorda que o termo foi excessivamente utilizado pelos jornalistas da década de 60 na França para qualificar os movimentos sociais, especialmente os de maio de 1968. Este uso, ainda recorrente atualmente —inclusive agora em 2020 no contexto da pandemia de coronavírus e em falas que qualificam o medo ao contágio e as medidas de isolamento como Histeria —, revela como o termo mantém sua função de nomear o insano em contraposição ao normal, ao coerente e ao saudável, e contribui, assim, para o estabelecimento de uma hierarquia constitutiva da relação entre masculino e feminino. Nessa hierarquia, o insano é algo do feminino, e isso se exemplifica perfeitamente nestes discursos onde se desqualificam gestos e palavras ao feminilizá-las. Em outras palavras, ao chamar algo de histérico, se faz uso do feminino para reprovar, se feminiza para desqualificar e desvalorizar. Portanto, a proposta de meus estudos e pesquisa em torno da Histeria atualmente — realizo um pós-doutorado sobre o tema na UERJ [e sem financiamento algum até o momento] — partem da ideia de que é preciso inverter essas narrativas. A inversão, por um lado, deve se dar na pergunta: e se as histéricas constassem a sua história? o que nos contariam? Por outro lado, a inversão deve buscar pontos de convergência ou nós que elucidam esta narrativa binária e da separação hierárquica entre os gêneros, de modo a ilustrar como uma desubjetivação (ou abjeção) de algumas pessoas, neste caso as mulheres, acontece através de uma séria de relações, onde a generificação dos corpos e a patologização dos comportamentos tem um papel primordial e decisivo. Por outro lado, ainda, a inversão deve buscar evidências de como as próprias narrativas oficiais, científicas e/ou midiáticas, seriam reveladoras de um movimento no pensamento ocidente e de projetos políticos-teóricos ocidentais (e também em nações ocidentalizadas, como o Brasil) que ao feminizarem certas performances de existência as desativam e as inabilitam. Recentemente vimos surgir um slogan “históricas e não histéricas”, para negar essa desqualificação pelo diagnóstico associado ao gênero. Não obstante, negar a Histeria como constitutiva do feminino é também reforçar a prescrição negativa de nossos modos de ser mulher. Assim, a proposta e a estratégia teórico-política que apresento é a da apropriação e ressignificação do termo, já não para excluir a Histeria do ser mulher, mas para resignificá-la. Proponho a reivindicação da Histeria como imagem de autenticidade feminina e como inversão de valores associados às mulheres por meio, justamente, da atualização do termo. Entendo que negar a Histeria, negar que somos ou podermos vir a ser histéricas, é reforçar a oposição entre uma normalidade e uma anormalidade feminina, e também a hierarquização entre feminino e masculino. Então, nos auto-proclamarmos histéricas e passarmos a habitar o feminino por essa imagem re-enquadrada pode [a meu ver, a partir de minhas pesquisas] ser uma maneira de se re-articular e se (re)presentar o feminino. Viviane Bagiotto Botton é doutora em filosofia pela Facultad de Filosofia y letras da UNAM_ Universidad Nacional Autónoma de México; faz pós-doutorado em filosofia na UERJ_ Universidade do Estado do Rio de Janeiro; e atualmente desenvolve pesquisa sobre a Histeria no Brasil e as nuances desses diagnóstico de gênero na história da psiquiatria nacional, assim como está envolvida com os estudos de gênero e colonialidade a partir das perspectiva do sul global__ Participa da Rede Brasileira de Mulheres filósofas junto ao projeto NÚCLEO DE ESTUDOS SOBRE A HISTERIA
- Histeria, mulher e feminino
Mais do que uma derivação da palavra grega hystero que denota "útero", e que foi utilizada para caracterizar um conjunto de sintomas nas mulheres em diferentes épocas, a Histeria foi um diagnóstico que marcou muito especificamente o nascimento da medicina psiquiátrica como ciência na segunda metade do século XIX e contribuiu ao surgimento da psicanálise no século XX. Isso se cruza e atravessa a história das mulheres - e também a dos homens- no Ocidente, colaborando para a formação de um modo prescritivo de se ser mulher. Explora-se a hipótese de que o termo tenha sido alcunhado por Hipócrates na antiguidade grega para referir-se aos males das mulheres, os corporais e também os da alma. O termo e a enfermidade ganharam visibilidade e uso na linguagem, porém, justamente quando a medicina moderna o associa oficialmente a toda uma série de manifestações comportamentais das mulheres europeias e passa a considerar que elas precisavam ser diagnosticadas, tratadas e curadas. No contexto da neuropsiquiatria e da psicanálise em seus inícios, a Histeria foi uma epidemia dos principais centros urbanos da Europa e se qualificava por uma sintomatologia física e psíquica falsa, já que não correspondia a patologias ou lesões identificáveis nos corpos das enfermas. Vista como uma ilusão ou uma encenação, ainda que não intencional, a Histeria foi elaborada como uma forma de loucura de mulheres, e o interesse em estudá-la e tratá-la apareceu só quando as escolas de neuro-psiquiatria começaram a usar as histéricas como cobaias para suas pesquisas. É claro que, como as histórias de todas as doenças, a da Histeria envolve múltiplos fatores sócio-econômicos e historiográficos, porém uma das principais razões por ter sido especialmente visibilizada e investigada no final do século XIX foi a instalação de novos mecanismos de controle, modernos e capitalistas, dos corpos das populações urbanas e, nesse caso, dos corpos das mulheres. O controle, o cuidado e a intervenção sobre elas foi fundamental ao processo de organização das sociedades europeias em termos de trabalho, produção e consumo, assim como foi a expansão desse modelo às colônias (como o Brasil), para a consolidação e a manutenção dos intercâmbios comerciais globais e do controle do capital em circulação sustentado pela interdependência entre a produção e a exploração dos trabalhadores(as). Dessa perspectiva, a organização das vidas individuais pelo ritmo do trabalho e as guerras internacionais caracterizavam uma nova ordem político-governamental mundial, cujos controles dos nascimentos e da saúde das crianças era fundamental ao funcionamento dos novos Estados Nacionais de Direito. As políticas estatais ocidentais então passaram de modo mais efetivo a dar atenção, controlar e intervir sobre o corpo de suas mulheres. Como nos conta Silvia Federici, o controle dos corpos das mulheres já era exercido durante séculos nos territórios europeus de origem grego-romana, como nota-se na caça às bruxas e na conceituação da carne e do feminino como o corpo do pecado e a encarnação do demônio. Porém, com uma configuração política em Estados-Nação, se fez necessário habilitá-las ao trabalho e treiná-las para serem boas reprodutoras de humanos e ainda aproveitar sua força para a criação dos filhos. Em um nova economia social, já não era possível dar-se ao luxo de exterminar seus corpos, como a queima na fogueira, se exigia então o treinamento de seus corpos e um uso controlado deles. Seria apressado dizer, contudo, que a Histeria só funcionou como um diagnóstico de controle das mulheres através da intervenção e do etiquetamento delas como "loucas" para retirar-lhes a credibilidade das palavras e, na maioria das vezes, do convívio social, já que a grande maioria acabava internada nos hospitais psiquiátricos europeus. Também seria redutor dizer que as histéricas foram uma invenção premeditada dos representantes do Estado e dos médicos para subordiná-las a seus objetivos trabalhistas, reprodutivos, comerciais e bélicos. A Histeria foi uma manifestação das mulheres que espetacularizavam suas mazelas, e também pode ser lida como sendo uma maneira de expressão e expansão feminina na época, já que além de ser um modo de chamar a atenção para si (como descreve Freud em seus primeiros trabalhos), também era um modo de existir (e talvez resistir) nas fronteiras entre o apagamento total e a possibilidade de serem livres sendo loucas. Esta tese, apesar de controversa, é instigante. Ela nos é sugerida por Michel Foucault, um homem e um estudioso da loucura, ao entender que na loucura haveria uma espécie de possibilidade de fuga - quiçá não deliberada, mas ainda assim fuga - de tudo o que estrutura as normativas de uma sociedade, de sua discursividade e da padronização das formas de subjetividade. A proposta deve ser avaliada com cuidado e essa é uma das tarefas de meu trabalho como pesquisadora do tema, já que também é preciso não promover com isso o apagamento do sofrimento real vivido pelas histéricas no século XIX e XX. Pensar esta questão, a meu ver, nos habilita a explorar as formas pelas quais a Histeria funcionou como fundamento das normas que regeram as mulheres naquele entre-séculos no Ocidente, e também considerar em que medida ainda hoje isso toca nossas normas sociais para as mulheres. A Histeria funcionou na Europa como norma prescritiva a todas as mulheres pelo via do negativo, já que era o comando de como as mulheres não deveriam ser. Do mesmo modo, a doença serviu à desqualificação da liberdade expressiva delas, especialmente em seus comportamentos e em sua linguagem. Quando, por alguma razão, não fosse conveniente o que faziam ou diziam, eram avaliadas e diagnosticadas (por médicos homens e sua ciência) como doentes e passíveis de intervenção e tratamento. Se gritavam, eram/estavam histéricas; se choravam, eram /estavam histéricas; se se alteravam, eram /estavam histéricas; se mentiam, eram /estavam histéricas, ... Ao mesmo tempo que a Histeria explicava todos estes fenômenos que precisavam ser rejeitados nas mulheres -e também em homens ao qualificá-los de afeminados-, para que a ordem político-social do sistema patriarco-andro-hetero-logo-branco-centrado não fosse afetada, também era providencial o uso do diagnostico para desresponsabilizar as mulheres de suas ações e fragilizá-las ou vitimizá-las, excluindo-as assim do protagonismo social, retirando-as da Ágora, mas preservando-as para a maternidade e o trabalho da criação dos filhos. Neste sentido, a doença (Histeria) e o adjetivo (histérica) persiste para a mulher como uma possibilidade latente e uma ameaça constante de aniquilamento de um estágio ou estado de normalidade presente neste exercício de se ser mulher, e representa a ameaça constante à sua funcionalidade jurídica como sujeito. É claro que o não reconhecimento das mulheres como sujeitos (e sim como objetos) nas sociedades ocidentais não se deve somente à histerização de seus corpos, mas este movimento é significativo na retirada da possibilidade de terem subjetividade e cidadania por meio da atribuição de um diagnóstico e sua caracterização individual com uma doença. No mesmo sentido, também é significativo o entrelaçamento dos corpos e sua natureza sexual à permissão para o exercício da cidadania, a permissão para possuir bens, e a liberdade de ação e deliberação. Neste sentido, a Histeria constituiu o feminino enquanto imagem e moldura ( frame ) das mulheres no Ocidente. Como negativo de uma representação a ser reforçada, a Histeria demarca as bordas do normal e contorna a imagem da mulher certa , sã, correta. Marca assim a fronteira que regulou os modos pelos quais todas as mulheres deviam ser/existir e pelos quais elas deviam agir para não deixarem de ser mulheres, e para jamais se tornarem histéricas. Apesar da perspectiva psicanalítica atual dispensar esta oposição entre normal e patológico e de também já não utilizar o termo para seus diagnósticos, a dicotomia se preserva na linguagem médica e na político-científica dos meios jornalísticos. No início do século XX a Histeria esteve presente nas enciclopédias, nos manuais de puericultura e de obstetrícia, nas representações do feminino e das doenças de mulheres que, apesar de não ter organicidade, era atribuída ao gênero. Ao deixar de ser doença, tendo a medicina e a psicanálise redirecionado seus sintomas a outras palavras classificatórias e ordenamentos da psique , a palavra persistiu como adjetivo atribuível a todos os humanos, mas sua significância se manteve atrelada ao feminino. Na linguagem cotidiana, a palavra seguiu referindo-se à loucura , à mentira , à alteração, à irracionalidade e ao exagero do feminino. O diagnóstico se manteve, portanto, como marcador científico-moral das narrativas que começaram a usar o gênero feminino como elemento de valoração e desqualificação das atitudes. Daí, falar em uma normatividade contra-histérica como inerente à normativa de gênero e a própria heterossexualidade parece fazer todo sentido, já que na medida em que é um marcador da negatividade, do erro ou da falha do feminino, também é um enquadramento normativo positivo do gênero e delimitador de um tipo de performance do feminino como sendo a correta, a aceitável, e a verdadeira. A Histeria assim, continua a condensar a contrariedade que devém parte constitutiva da mulher e que rege as vivências do gênero feminino. Elisabeth Roudinesco, em sua história da psicanálise, enfatiza este aspecto quando nos recorda que o termo foi excessivamente utilizado pelos jornalistas da década de 60 do século XX na França para desqualificar os movimentos sociais, especialmente os de maio de 1968. Este uso, ainda recorrente —inclusive em 2020 no contexto da pandemia de coronavírus e em falas que qualificam o medo ao contágio e às medidas de isolamento como Histeria —, revela como o termo mantém sua função de nomear o insano em contraposição ao normal, ao coerente e ao saudável, e contribui para o estabelecimento de uma hierarquia constitutiva da relação entre masculino e feminino. Nessa hierarquia, o insano é algo do feminino, e isso se exemplifica perfeitamente nestes discursos onde se desqualificam gestos e palavras ao feminizá-las. Em outras palavras, ao chamar algo de histérico, se faz uso do feminino para reprovar, se feminiza para desqualificar e desvalorizar. Portanto, a proposta de meus estudos e pesquisa em torno da Histeria — realizadas como trabalho de pós-doutorado na UERJ — partem da ideia de que é preciso inverter essas narrativas. A inversão, por um lado, deve se dar na pergunta: e se as histéricas constassem a sua história? o que nos contariam? Por outro lado, a inversão deve buscar pontos de convergência, como se fossem nós em uma teia, que elucidem esta narrativa binária da separação hierárquica entre os gêneros, de modo a ilustrar como uma desubjetivação (e abjeção) de algumas pessoas, neste caso as mulheres, aconteceu através de uma séria de relações sociais, culturais e linguísticas, onde a generificação dos corpos e a patologização dos comportamentos teve um papel primordial e decisivo. Por outro lado, ainda, a inversão deve buscar evidências de como as próprias narrativas oficiais, científicas e/ou midiáticas, seriam reveladoras de um movimento no pensamento e de projetos políticos-teóricos ocidentais (e também em nações ocidentalizadas, como o Brasil) que ao feminizarem certas performances de existência as desativam e as inabilitam. Recentemente vimos surgir um slogan “históricas e não histéricas”, para negar essa desqualificação pelo diagnóstico associado ao gênero. Não obstante, negar a Histeria como constitutiva do feminino é também reforçar a prescrição negativa de nossos modos de ser mulher. Assim, a proposta e a estratégia teórico-política que apresento é a da apropriação e ressignificação do termo, já não para excluir a Histeria do ser mulher, mas para ressignifica-la. Proponho a reivindicação da Histeria como imagem de autenticidade feminina e como inversão de valores associados às mulheres por meio, justamente, da atualização do termo. Entendo que negar a Histeria, negar que somos ou podermos vir a ser histéricas , é reforçar a oposição entre uma normalidade e uma anormalidade feminina, e também a hierarquização entre feminino e masculino. Então, nos auto-proclamarmos histéricas e passarmos a habitar o feminino por essa imagem reenquadrada que pode [a meu ver, a partir de minhas pesquisas] ser uma maneira de se rearticular e se reapresentar o feminino. Viviane Bagiotto Botton é professora Adjunta do Colégio Pedro II no Rio de Janeiro. Doutora em filosofia pela Facultad de Filosofia y letras da UNAM no México; fez pós-doutorado em filosofia na UERJ no Rio de Janeiro; é doutoranda do departamento de ciência da literatura da UFRJ. Sua pesquisa sobre a Histeria no Brasil e as nuances desses diagnóstico de gênero na história da psiquiatria nacional é o trabalho que desenvolveu no pós-doc de 2020 a 2022, e sua perspectiva teórica são os estudos decoloniais.











