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  • Feminismos Indígenas por Lia Barbosa: quarta aula do curso de Introdução ao Feminismo.

    Assista aqui Lia Barbosa trata da diversidade dos povos que habitavam o Abya Yala, de algumas das mulheres indígenas históricas, do feminismo comunitário e do ativismo das mulheres zapatistas. Essa é a quarta aula do curso online de Introdução ao Feminismo oferecido pela Rede Brasileira de Mulheres Filósofas sob a organização de Rita Machado (UEA). Veja o programa de curso e a bibliografia em www.filosofas.org/cursofeminismo. Lia Pinheiro Barbosa é Socióloga e Doutora em Estudos Latino-Americanos. Docente na Universidade Estadual do Ceará (UECE), no Programa de Pós-Graduação em Sociologia e no Mestrado Acadêmico Intercampi em Educação e Ensino (MAIE). Pesquisadora do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (CLACSO), no GT Economía Feminista Emancipatoria. Líder do Grupo de Pesquisa Pensamento Social e Epistemologias do Conhecimento na América Latina e Caribe. Lattes: http://lattes.cnpq.br/3858914223581195 https://youtu.be/79ydVeYCPdg Assista a aula aqui #redebrasileirademulheresfilosofas #filosofasOrg #filosofasbrasil #introducaoaofeminismo #feminismosindígenas #liabarbosa

  • Sobre Sororidad: uma dimensão filosófica e necessária às feministas.

    Rita de Cássia Fraga Machado Professora de Filosofia na Universidade do Estado do Amazonas e Ecofeminista. El feminismo requiere democracia en la sociedad. Más aún, la democracia debiera contenido de su definición. Se trata de una democracia construida a partir del reconocimiento de las formas de poder que genera y en las que se inserta, a partir también del análisis de las formas en que se da la opresión política entre mujeres feministas. (Lagarde y de Los Ríos, 2016,p.21) A primeira vez em que escutei o termo Sororidad, pela filósofa mexicana Marcela Lagarde, fiquei muito curiosa. E, quando me aproximei do termo, percebi que ele estava sempre ligado à democracia. Lagarde diz que a Sororidad faz parte da nova cultura das mulheres, pois se trata de uma nova forma de relacionamento, trata-se de uma aliança entre mulheres. Eu entendo essa nova forma relacionamento a partir do momento que estamos vivendo hoje no Brasil, momento que propicia o aprofundamento dessa relação. O termo é difícil de ler. Primeiro, porque ele é cunhado em espanhol, e, depois, porque a filósofa fala de algo utópico, mesmo que uma utopia feminista possível. Quando pensamos em relação entre mulheres, poucas são as memórias coletivas e solidárias. Os movimentos feministas as possuem em maior grau, mas com suas contradições. Essa reflexão nasce de uma necessidade e da importância de retomarmos com vigor esse termo. Eu não vejo outro momento, pelo menos mais próximos, de nos aliarmos. A pandemia está aí, e o rosto dela é de mulheres, e é sobre isso que gostaria de dedicar essa reflexão. Para Lagrade, a Sororidad é uma “dimensión ética, política y práctica del feminismo contemporáneo. Es una experiencia subjetiva de las mujeres que las conduce a la búsqueda de relaciones positivas y a la alianza existencial y política, cuerpo a cuerpo, subjetividad a subjetividad con otras mujeres, para contribuir a la eliminación social de todas las formas de opresión y al apoyo mutuo para lograr el poderío genérico de todas y el empoderamiento vital de cada mujer” (Lagarde y de Los Ríos, 2016,p.21). Assim, podemos entender que a sororidade pode ser compreendida como solidariedade entre as mulheres como uma dimensão necessariamente feminista. Sororidade também pode ser compreendida como a “conciencia crítica sobre la misoginia, sus fundamentos, prejuicios y estigmas, y es el esfuerzo personal y colectivo de desmontarla en la subjetividad, las mentalidades y la cultura, de manera paralela a la transformación solidaria de las relaciones con las mujeres, las prácticas sociales y las normas jurídico políticas”. (Lagarde y de Los Ríos, 2016,p.21). Assim, enfrentar o momento atual de uma lógica cruel, desumana e misógina requer mesmo que haja muita aliança entre nós, mulheres. E precisamos retomar a ideia de uma relação cooperada com a natureza e de uma formação humana aliada às questões de valores éticos que respeitem as humanidades. Enfrentar a pandemia requer que ousemos no uso da inteligência em detrimento a ignorância que parece tomar as mentes brasileiras. Nossa tarefa como filósofas é barrar o avanço da ignorância, pois a filosofia é sim um antídoto a ela. Precisamos nos aproximar de outras mulheres e construir epistemologias que considerem as questões da solidariedade, da razão e da afetividade. É necessária uma revolução dos afetos. As mulheres podem, conseguem e estão fazendo isso, sob uma união de conhecimentos e dimensões e com bases humanas anticapitalistas. Essa reflexão também é um agradecimento à rede de pensadoras (a todas) e professoras que construíram o curso As Pensadoras, em um movimento forte de mulheres filósofas em solidariedade com as mulheres indígenas e ribeirinhas da região do médio Solimões Amazonas. Referências Lagarde y de Los Ríos, Marcela. SORORIDAD. In: CASTRO, Amanda (Org.); MACHADO, Rita. Cássia. (Org.). Estudos Feministas: Mulheres e Educação Popular. 1. ed. Curitiba: Editora CRV, 2016. v. 1. p-21-30. #redebrasileirademulheresfilosofas #filosofasOrg #filosofaemquarentena #sororidad #mulheresribeirinhas

  • Quem tem medo da ideologia de gênero? Gisele Secco e Marcos Balieiro em 15/05 às 16:00hs.

    Integrando o ciclo de debates online em torno do lançamento do livro "Entre o Mito e a Política", Gisele Secco discute o texto de Marcos Balieiro intitulado "Quem tem medo da ideologia de gênero" no próximo sábado às 16:00hs. Confira também toda a programação do evento, que começa hoje. SOBRE O EVENTO: Entre os dias 11 a 18 de maio ocorrerá o evento do Lançamento e Ciclo de Debates Online do Livro Entre o Mito e a Política, que consiste numa tentativa de ampliar para além dos muros das universidades, o diálogo entre a tradição intelectual das ciências humanas e os problemas que assolam o nosso cotidiano nacional. O e-book será disponibilizado gratuitamente na página do Facebook do livro, onde, entre os dias 11 e 18 de maio, serão transmitidos os debates, tanto entre os autores do livro, quanto entre autores e convidados. Para certificação é necessária a inscrição nosigaa.ufs.br>Extensão>Eventos> Lançamento e Ciclo de Debates online do Livro Entre o Mito e a Política Para mais informações ver as redes sociais do evento:fb.com/entreomitoeapolítica" SOBRE O LIVRO: “Não é raro ouvir que as ciências humanas pouco ou quase nada têm a contribuir para esse nosso novo mundo movido pelo desenvolvimento tecnológico; que as ciências humanas pouco ou quase nada têm a oferecer ao nosso país, esse enorme e diverso Brasil, atualmente assolado pela polarização política e, como se não bastasse, sob a ameaça de uma pandemia sem precedentes na história moderna. Será mesmo? Estariam mesmo as ciências humanas definitivamente ultrapassadas? São elas realmente inúteis? Entre o mito e a política busca dar uma resposta a esse tipo de compreensão. Composto de diversos textos independentes de professores e estudantes de diferentes subáreas das ciências humanas, este livro propõe um diálogo entre a tradição intelectual das ciências humanas e os problemas que nos assolam no nosso cotidiano nacional. Escrito em linguagem simples e direta, Entre o mito e a política visa ampliar o debate para além dos muros das universidades, destinando-se a todos aqueles que buscam elementos para refletir, seja para concordar ou discordar, sobre a realidade que, para além de qualquer polaridade, diz respeito a todos nós cidadãos brasileiros.” encurtador.com.br/bilKY  - link com o ebook para donwload O livro já se encontra disponível para compra na amazon do Brasil na modalidade ebook kindle. Ainda não foi disponibilizada a modalidade impressa para o território brasileiro, mas, segundo o site, em breve este inconveniente será corrigido. https://www.amazon.com/-/pt/dp/B0885ZYCCV/ref=sr_1_1?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&dchild=1&keywords=entre+o+mito+e+a+poitica&qid=1588908356&sr=8-1-spell  - link para compra na amazon #redebrasileirademulheresfilosofas #filosofasOrg #entreomitoeapolitica #ideologiadegenero #giselesecco #marcosbelieiro

  • [PHILIA] Chamada para publicação - Dossiê temático: Feminismos na filosofia, na literatura e na arte

    Dossiê temático "Feminismos na filosofia, na literatura e na arte" Organizadoras: Ana Rieger Schmidt (UFRGS) e Mitieli Seixas (UFSM) Período: de 07/05 a 07/06/2020 A Revista PHILIA | Filosofia, Literatura e Arte tem o prazer de convidar pesquisadoras e pesquisadores a enviar contribuições acadêmicas para publicação no dossiê "Feminismos na filosofia, na literatura e na arte". O dossiê se propõe a acolher trabalhos resultantes de pesquisas sobre mulheres artistas e intelectuais excluídas ou diminuídas pela preeminência patriarcal dos cânones, instigando sua reescrita crítica. Nesse sentido, serão aceitas abordagens inter e transdisciplinares que evidenciem a contribuição de mulheres ao desafiar narrativas em seus contextos intelectuais e problematizar relações de gênero. Serão contemplados artigos, traduções de obras teóricas ou literárias, resenhas de livros e ensaios visuais. As contribuições devem observar as diretrizes para autoras e autores descritas no link: https://seer.ufrgs.br/index.php/philia/about/submissions#authorGuidelines. A revista disponibiliza templates de formatação dos textos, de uso obrigatório. PHILIA | Filosofia, Literatura & Arte http://seer.ufrgs.br/philia revistaphilia@ufrgs.br ISSN 2596-0911 #redebrasileirademulheresfilosofas #filosofasOrg #feminismo #dossiefeminismos #revistaphilia

  • Marcha Virtual pela Ciência: a Rede apoia o Pacto Pela Vida e a SBPC

    Em 07 de maio de 2020, a Rede Brasileira de Mulheres Filósofas apoia a Marcha Virtual pela Ciência organizada pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência em defesa do Pacto Pela Vida e pelo Brasil. Elaborado pela CNBB, OAB, Comissão Arns, ABC, ABI e SBPC, o Pacto, que ganhou apoio de mais de uma centena instituições e associações, pede a união de toda a sociedade, solidariedade e conduta ética e transparente do governo, tomando por base as orientações da ciência e dos organismos nacionais e internacionais de saúde pública no enfrentamento da pandemia de coronavírus. Com a participação de Loiane Verbicaro, Patrícia Ketzer, Silvana Ramos e Gisele Secco, o vídeo afirma a importância da ciência para a vida, alerta para a delicada situação das mulheres durante a pandemia e reivindica o financiamento das pesquisas nas diversas áreas do conhecimento como fator indispensável à construção de uma sociedade de direitos mais igualitária. Veja também em: https://youtu.be/AUqNlaK_yPk #redebrasileirademulheresfilosofas #filosofasOrg #marchavirtualpelaciencia #pactopelavida #sbpc #fiqueemcasacomaciencia

  • Marcha pela ciência e a valorização da educação e da pesquisa públicas no Brasil

    Thayná Monteiro Rebelo Aluna do Curso de Direito pelo Centro Universitário do Estado do Pará (CESUPA). Integrante do Grupo de Pesquisa (CNPq): Filosofia Prática: Investigações em Política, Ética e Direito. Loiane Prado Verbicaro Professora da Faculdade de Filosofia e do Programa de Mestrado em Filosofia da Universidade Federal do Pará (UFPA). Líder do Grupo de Pesquisa (CNPq): Filosofia Prática: Investigações em Política, Ética e Direito. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), em parceria com universidades, instituições de pesquisa, entidades científicas, professores e estudantes, organizaram a Marcha Virtual pela Ciência no Brasil, que se realizará amanhã, dia 07 de maio, com a finalidade de ressaltar a importância da ciência, tecnologia e inovação no enfrentamento da pandemia do Covid-19, bem como de discutir os efeitos da crise sanitária na sociedade, na economia e no sistema de saúde, promovendo um diálogo entre pesquisadores do país por meio das redes sociais e do Portal da SBPC. O objetivo é a necessária valorização das ciências como forma de combate à pandemia e de suas principais consequências nas diversas esferas da vida, especialmente em um país tão desigual como o Brasil, em que os impactos do novo coronavírus recairão em maior medida na população mais pobre e nos grupos mais vulneráveis. Dessa forma, discutir essas temáticas por meio de pesquisas e estudos é fundamental para o devido enfrentamento, afastando-se do negacionismo científico e de “achismos” infundados, inconsequentes e levianos. O cenário de combate ao Covid-19 no país é ainda mais sensível em decorrência dos constantes cortes de verbas nas ciências, nas universidades, nos laboratórios, bolsas de estudos, insumos, com uma pauta de intensa desvalorização do conhecimento científico, o que permite que discursos ideológicos baseados em “gurus” estejam em voga, ganhando espaço em detrimento do conhecimento sério e rigoroso da ciência. No entanto, mesmo diante da crescente depreciação da educação no país, é importante registrar que as universidades públicas brasileiras estão na linha de frente do combate ao novo coronavírus, com destaque internacional. A Marcha Virtual pela Ciência também visa reiterar a importância do documento “Pacto pela Vida e pelo Brasil,” elaborado pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns (Comissão Arns), Academia Brasileira de Ciências (ABC), Associação Brasileira de Impressa (ABI) e SBPC. O Pacto ressalta a importante colaboração dos entes federativos e sociedade civil ao combate da pandemia, a defesa do isolamento social e da formulação de políticas públicas, especialmente visando atender aos grupos sociais vulnerabilizados. Além disso, o documento prima pela valorização da ciência, com a finalidade da promoção de diálogos sérios e propositivos ao enfrentamento do vírus. O evento destaca como principais discussões a defesa do isolamento social, medida recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e sociedades médicas e científicas, os cortes dos recursos à ciência, tecnologia e inovação no país, a precariedade dos sistemas de saúde e educação e a necessidade de criação de medidas ao combate à crise econômica, tendo por base o respeito e atenção às populações mais pobres e vulneráveis, como forma de não acirrar as desigualdades sociais e econômicas já existentes. As melhores respostas à pandemia do novo coronavírus em seus aspectos sanitários, sociais, políticos, econômicos, jurídicos, humanitários, só podem ser encontradas a partir de pesquisadores, suas universidades e centros de pesquisa, com a união de esforços das diversas áreas de conhecimento, de acordo com um projeto integrado, capaz de refletir à luz de todas as complexidades envolvidas. Nesse sentido, é importante dizer, ainda que seja o óbvio, que em um projeto fortalecido e democrático de educação e de sociedade deve haver a valorização da diversidade dos domínios do conhecimento: ciências exatas e da terra, biológicas, da saúde, engenharias, agrárias, linguística, letras e artes, sociais e humanas. Um especial destaque à área de humanidades tão estrategicamente espezinhada e tachada como inútil. As humanidades (e a filosofia em especial) promovem o pensamento crítico e reflexivo opondo-se ao processo de instrumentalização econômica, permitindo a humanização da humanidade, contra a desertificação que sufoca o espírito e leva a barbárie. É pelas humanidades e também pelas ciências sociais que discutimos desigualdades estruturais e seus marcadores de opressão, raça, classe, gênero, como forma de contribuir para a elaboração de políticas públicas à construção de uma sociedade mais justa, livre de preconceitos e igualitária. É por intermédio desses estudos que podemos refletir sobre os impactos e consequências da pandemia com o deslocamento do ordinário e o recrudescimento de problemas sociais, políticos, econômicos e éticos preexistentes que, em momentos pandêmicos, são agravados, tais como: o aumento da violência e da opressão de gênero; a insuficiência do neoliberalismo enquanto sistema de acumulação que acena ao esgotamento da ideia de democracia como norma política; a fragilidade dos direitos humanos, com especial destaque à precarização das relações trabalhistas e dos serviços públicos de saúde e ao aumento da pobreza diante da persistência de uma agenda de austeridade e de medidas que maximizam a importância do mercado e os imperativos de eficiência em detrimento das diretrizes e recomendações científicas, do ser humano e de políticas sociais e de igualdade. As Portarias nº 34 da CAPES e nº 122 do CNPq de 2020 revelam a tacanhez do projeto educacional no país, com o esfacelamento da cultura e das distintas lentes e perspectivas de construção de saberes a partir da diversidade e complexidade dos problemas humanos. O fortalecimento das universidades públicas e dos sistemas sociais e de saúde viabilizam a adequada infraestrutura para o avanço da cultura, ciência, tecnologia e inovação, com a proteção de vidas e o aumento do bem estar humano e social. A política de austeridade fiscal projetada para financiar cortes de benefícios sociais e de direitos, bem como para promover a descontinuidade de programas e pesquisas científicas em razão das reiteradas reduções orçamentárias às universidades e dos ataques à educação e à autonomia universitária, com o desmonte dos sistemas públicos saúde, agrava significativamente a profunda crise que estamos vivendo. O respeito à ciência afasta a crença em fórmulas mágicas ou soluções messiânicas que têm sido tão propagadas com fake news e posturas execráveis como a do Presidente dos Estados Unidos Donald Trump que recomendou detergente para curar o coronavírus, o que gerou intoxicação em vários norte-americanos. Repreendido, disse o presidente que estava sendo sarcástico. Inadmissível também é a defesa apaixonada do Presidente do Brasil Jair Bolsonaro para o uso de medicamentos sem comprovação científica de eficácia; bem como suas falas em cadeia nacional minimizando a pandemia ao equipará-la a uma “gripezinha”; as reiteradas atitudes de desdém às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), ao chamar o povo de volta ao trabalho com discursos agradáveis à racionalidade econômica segundo os quais “pior que o medo da epidemia deve ser o medo do desemprego”; as constantes reuniões em aglomerações e ainda sem o recomendado uso de máscara protetora; e suas reiteradas manifestações de abominosa indiferença aos números crescentes de mortes com o seu infando “E daí?”. Mais do que irresponsabilidade, é um insulto à valorização da vida e à ciência. A pandemia tem sido fortemente politizada. Conviver com a mazela sanitária, com o profundo luto e fragilidade da nossa existência tem sido um desafio e um momento de inflexão para a nossa civilização. Associar esse momento a todas as irresponsabilidades, desmandos e acirramentos políticos e ideológicos torna-se ainda mais dramático. A politização da pandemia enfraquece a valorização da ciência como o caminho seguro para nos guiar em meio a tantas incertezas e desesperança. Exemplo estapafúrdio encontramos na fala do Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, ao referir-se ao vírus como disseminador estratégico do comunismo, denominando-o de “comunavírus”. No Brasil, a politização do Covid-19 ganha proporção assustadora, caminhando ao lado de teses negacionistas e em descompasso com a ciência. Infelizmente, a luta não é apenas contra o vírus. É também contra a insuficiência da nossa rede hospitalar em razão dos reiterados cortes de verbas à saúde e à pesquisa científica, fruto da agenda de austeridade fiscal e do descaso com a educação e com a vida; é contra a crise social, política, econômica e humanitária que precariza ainda mais vidas já precarizadas. É preciso vir aqui para reafirmar o óbvio civilizatório: a educação, a pesquisa e as universidades, contra a tragédia do obscurantismo, da indiferença e da barbárie. #redebrasileirademulheresfilosofas #filosofasOrg #filosofaemquarentena #politizaçãodapandemia #fiqueemcasacomaciência #paCTopelavida

  • Feminismo Negro por Halina Leal: terceira aula do curso online de Introdução ao Feminismo

    Assista aqui. Halina Leal apresenta o feminismo negro e o conceito de interseccionalidade, além de explicar a necessidade de novas epistemologias a partir do processo de auto-definição e empoderamento das mulheres negras. Essa é a terceira aula do curso online de Introdução ao Feminismo oferecido pela Rede Brasileira de Mulheres Filósofas sob a organização de Rita Machado (UEA). Veja o programa e curso e a bibliografia em www.filosofas.org/cursofeminismo. Halina Macedo Leal é Bacharel em Filosofia pela UFRGS (1998), Mestre em Filosofia pela UFSC (2001) e Doutora em Filosofia pela USP (2005), com estágio na Universidade de Stanford, Califórnia. Possui Pós-Doutorado em Filosofia pela UNIOESTE (2014). Professora da FURB e líder do GENERA - Grupo Interdisciplinar de Pesquisas em Gênero, Raça e Poder, FURB. Lattes: http://lattes.cnpq.br/5698575555739025 https://youtu.be/0DyJNZlvWeA Assista a aula aqui. #redebrasileirademulheresfilosofas #filosofasOrg #filosofasbrasil #introducaoaofeminismo #feminismonegro #halinaleal

  • O avanço do retrocesso e a precarização das relações de trabalho

    Yasmin Dolores de Parijós Galende Mestra em Direitos Humanos pelo Centro Universitário do Pará (CESUPA). Professora da Faculdade Estácio de Castanhal – Pará. Integrante do Grupo de Pesquisa (CNPq): Filosofia Prática: Investigações em Política, Ética e Direito. Loiane Prado Verbicaro Professora da Faculdade de Filosofia e do Programa de Mestrado em Filosofia da Universidade Federal do Pará (UFPA). Líder do Grupo de Pesquisa (CNPq): Filosofia Prática: Investigações em Política, Ética e Direito. Ainda que o presente milênio seja marcado com graves epidemias, como a gripe espanhola, do início do século XX, que chegou a contaminar 500 milhões de pessoas, com estimativas de até 50 milhões de mortos; os surtos altamente infecciosos e mortais do ebola na África; os quadros respiratórios e infecciosos agudos de gripe suína e de H1N1; entre outras enfermidades de elevado contágio e morbidade, jamais vislumbraríamos, no século XXI, que o mundo pararia diante de uma avassaladora pandemia do novo coronavírus, deixando cidades inteiras quase suspensas em suas atividades comerciais, artísticas, culturais, políticas, esportivas, lúdicas, escolares e trabalhistas. Segundo a antropóloga Lilia Schwarcs, provavelmente, a pandemia inaugurará uma nova era e será conhecida como o marco para o fim do Século XX, com todas as possíveis mudanças e rupturas que poderão advir desse momento. Esse cenário inimaginável, que implementa um clima de guerra, medo e incertezas diante da devastidão da doença e da constatação da fragilidade da vida, tem permitido uma ampliação das nossas lentes para uma melhor leitura dos problemas preexistentes que, em tempos epidêmicos, são agravados. O fato é que as condições de desigualdade socioeconômica do país, com 50 milhões de brasileiros vivendo abaixo da linha demarcatória da pobreza, correspondente a 25% da população, conforme dados do Banco Mundial, associadas a precárias políticas pró-cíclicas de programas discricionários assistenciais de combate à pobreza, que são notoriamente insuficientes para a garantia de um mínimo de dignidade, e a uma agenda perversamente desumana, com medidas liberalizantes e baseadas na austeridade fiscal e no desmonte da proteção trabalhista e da rede de cuidado social, têm gerado o agravamento dessa desigualdade e outras consequências dramáticas, especialmente às camadas que constituem a base da pirâmide, que são os mais afetados em momentos epidêmicos. Hoje, dia 1º de maio de 2020, dia internacional do trabalhador, dedicaremos esse breve texto a algumas reflexões sobre o avanço do retrocesso e o agravamento da precarização das relações trabalhistas no Brasil, com enfoque nas medidas que vêm sendo adotadas pelo Governo brasileiro em descompasso com a proteção dos direitos dos trabalhadores. Inicialmente, é premente demarcar que os direitos constitucionalmente assegurados aos trabalhadores brasileiros vêm sofrendo duros golpes no país desde a reforma trabalhista realizada em 2017, no Governo Temer, que, ademais de fragilizar a proteção social trabalhista, passou a implementar uma versão excepcionalmente excludente do neoliberalismo, ao priorizar uma agenda de supressão de direitos sociais e contenção dos gastos públicos, diretrizes essas seguidas e reforçadas pelo atual governo Bolsonaro, com impactos corrosivos na rede de proteção social. Assim, a reforma trabalhista já havia instaurado modificações na legislação que acabaram por incentivar a precarização das relações de trabalho, prejudicando o trabalhador tanto em seus direitos materiais quanto na possibilidade de recorrer a ferramentas processuais para reivindicar direitos perante a Justiça do Trabalho. Exemplificando, com a justificativa de combater o desemprego, criou novas formas de contratação que reduziram os custos ao empregador a partir da diminuição da proteção ao trabalhador, medida que no plano prático apenas resultou no aumento gravoso da informalidade. Também tornou-se mais difícil ao empregado procurar reparação de seus direitos violados, pois o processo ficou mais caro ao trabalhador – mesmo aqueles considerados hipossuficientes passaram a pagar algumas custas do processo e, na hipótese de improcedência do pedido, a pagar também honorários ao advogado da empresa, mesmo que reconhecidamente não tenham condições de sustentar-se com dignidade, o que fez o número de ações trabalhistas diminuir drasticamente. Ademais, outras medidas foram adotadas como a quantificação da reparação por danos morais proporcional ao salário do empregado, mantendo, assim, a cadeia de privilégios socioeconômicos. A lei reformada também garantiu o desmanche da proteção social coletiva ao relativizar o pagamento das contribuições sindicais pelo empregado, o que fez diminuir a arrecadação sindical e, consequentemente, a sua força de atuação e reivindicação. Outrossim, em meio à pandemia, as medidas de flexibilização das relações laborais foram reforçadas por meio de atos unilateralmente produzidos pelo atual Presidente da República, a exemplo da Medida Provisória (MP) nº 927, apelidada de MP do extermínio, que, ao priorizar patrões e empresários, estabeleceu a possibilidade de suspensão dos contratos de trabalho por quatro meses. Sob forte pressão de diferentes setores da sociedade, o Presidente retrocedeu em menos de 24 horas, revogando essa possibilidade. Ainda que tenha retrocedido na decisão, esse fato sinaliza a manutenção do ímpeto de flexibilização e supressão dos direitos trabalhistas. Ainda assim, desde a instauração do estado de calamidade pública decorrente do COVID-19, o Governo Federal continuou editando uma série de Medidas Provisórias (nº 927, 936, 945, 946, entre outras) sobre o novo tratamento das relações de trabalho, deixando nítida a prevalência dos acordos individuais realizados entre o patrão e o empregado em detrimento das negociações coletivas, mesmo em matérias nas quais a Constituição Federal exige maior proteção ao trabalhador. Em novo exemplo, algumas das alterações envolvem: a possibilidade de o empregador antecipar as férias do trabalhador (inclusive outros períodos futuros de férias), sem precisar realizar o pagamento antecipado da remuneração, podendo este valor ser pago no mês seguinte ao gozo das férias, e ainda sem o acréscimo de 1/3 do salário sobre as férias previsto pela Constituição, este podendo ser pago até dezembro de 2020; a possibilidade de constituição de um banco de horas no qual as horas que o trabalhador não laborar durante o período de quarentena serão compensadas posteriormente com períodos em que ele trabalhará com prorrogação de jornada em até dez horas diárias, compensação esta que poderá ser determinada pelo empregador independentemente de convenção coletiva ou acordo individual ou coletivo; e uma das mais gravosas, prevista pela MP nº 936: a possibilidade de o empregador reduzir o tempo das jornadas de trabalho do trabalhador, com a consequente redução do salário correspondente em até 70% do seu valor, feito por simples acordo individual, quando a Constituição Federal expressamente prevê que qualquer alteração no salário do trabalhador deve ser feita por negociação coletiva, uma vez que estas verbas servem para o sustento e a manutenção da sobrevivência minimamente digna do indivíduo, e por isso demandam maior proteção contra negociações arbitrárias. Essa infringência à proteção trabalhista foi legitimada, inclusive, pelo Supremo Tribunal Federal que, em controle de constitucionalidade da MP 936, ratificou a possibilidade de alteração salarial sem negociação coletiva, deixando o trabalhador em uma situação incontornável de assimetria, desequilíbrio e vulnerabilidade. A justificativa para essas medidas é a manutenção do emprego e da renda. No entanto, a realidade é que elas ampliam a fragilidade do trabalhador em face do interesse empresarial, bem como escancaram as estratégias de assujeitamento em conformidade às normas que reverberam no dispositivo de poder neoliberal, cujo objetivo é ampliar os preceitos do individualismo e da economia de mercado para além da estratégia econômica, tornando-se uma forma de constituição dos próprios sujeitos. Para garantir que o mercado seja, de fato, o mecanismo regulador da população, é preciso que suas premissas estejam inscritas na constituição dos sujeitos políticos e nas mais diversas esferas da sociabilidade, portanto os principais pilares desta governamentalidade neoliberal estão na criação de uma sociedade concorrencial e no empresariamento da vida, em que o indivíduo se torna “empresário de si mesmo” e sua vida passa a ser compreendida enquanto capital humano. Nesta medida, a norma de conduta passa a ser a concorrência interindividual, sustentada por regimes econômicos de desmanche das conquistas e das instituições garantidoras dos direitos sociais, bem como das proteções coletivas aos trabalhadores; pelo incentivo à meritocracia; a precarização (ou uberização) das relações e legislações trabalhistas; entre outras medidas que criam novas formas de subjetivação isentas de preceitos de solidariedade e redistribuição, formando aí um indivíduo (neossujeito) autocentrado e egoísta, que se relaciona consigo e com os outros nos mesmos moldes do concorrenciamento empresarial, e sob a similar lógica da prosperidade a partir do lucro. O neoliberalismo atua de modo vigilante, sempre a favor do mercado. Nesse sentido, se setores estratégicos apresentarem sinais de instabilidade, o Estado os socorre, bancando os riscos da atividade econômica, afinal, são “too big to fail” e, portanto, dignos de ajuda estatal, ainda que isso represente um keynesianismo de resgate dispendioso às custas das massas empobrecidas. A estratégia neoliberal não é econômica sem ser ao mesmo tempo subjetiva. Ela espraia-se a todas as esferas da vida, determinando que os indivíduos se vejam como empresas de máxima performance. É a figura do neossujeito, indivíduo que foi levado a crer que irá ascender economicamente mediante o seu próprio esforço individual e que ao se submeter a formas de trabalho precarizadas que não reconhecem seus direitos trabalhistas mínimos – ou que sequer reconhecem na sua atividade uma relação de emprego, como é o caso dos motoristas de Uber e daqueles vinculados a aplicativos de entrega de produtos e alimentos – estaria assumindo os riscos do empreendedorismo, dispensando a proteção trabalhista e naturalizando a precarização e o consequente desamparo da proteção social. Para o sujeito neoliberal, o individualismo concorrencialista e meritocrático é a fórmula que rege todas as suas relações, de modo que quaisquer falhas na dinâmica laboral e no sucesso individual são atribuídas à sua própria incompetência, infortúnio ou malogro. Desta feita, o Estado desincumbe-se da proteção social, apostando na defesa da ampla liberdade de mercado com rígidos limites ao uso estatal para fins de política social e oposição aos esquemas de tributação redistributiva, nos moldes de um capitalismo irrestrito sem compromissos sociais como o único capaz de garantir trocas livres. No cenário de crise aguda da pandemia, há preocupações trabalhistas, além das já mencionadas, que podem parecer de somenos importância, mas que merecem atenção, como os novos formatos emergenciais dos contratos de trabalho em época de isolamento social, reforçando as premissas flexibilizadoras da proteção social, além de outras que ensejam um olhar cuidadoso, a exemplo da substituição das jornadas de trabalho presenciais pelo teletrabalho (home office). Nos regimes de trabalho à distância, a vigilância imediata dos corpos é substituída por um regimes de metas, pela disposição do trabalhador ao empregador em tempo integral por via das redes virtuais de comunicação, sem proteção expressa aos intervalos intrajornada, horas extraordinárias, entre outros direitos, o que se agrava ainda mais quando a trabalhadora (mulher) acumula as funções da reprodução social do cuidado com as tarefas laborais, gerando uma sobrecarga excessiva de trabalho, com consequências à saúde emocional e psicológica. Trata-se da divisão sexual do trabalho que estrutura não somente a reprodução do capital, mas também a distribuição das funções e dos papéis sociais. O neossujeito é ludibriado pela lógica do “empreendedor de si” e acredita que precisa se adaptar a quaisquer ditames do sistema econômico para ter sucesso e ascensão individual, e desse modo se torna um corpo dócil que acata as alterações impostas pelas instituições de governo às suas relações de trabalho, sem perspectiva segura de que tais alterações serão posteriormente revertidas ou compensadas. São indivíduos que aderem a essas premissas com todos os riscos e impactos que podem advir para a sua vida, saúde e proteção, ainda mais acentuados diante da pandemia e do (des) governo presidencial que se vale de medidas de precarização das relações de trabalho em nome da realização de sua política liberalizante. Todo esse cenário é agravado com a crise econômica no mundo e, em especial, no Brasil que, segundo relatório do Banco Mundial, provocará uma retração em torno de 5%, com impactos no número expressivo de desempregados, em torno de 25 milhões, com o consequente recrudescimento da pobreza e desigualdade, o que acena ao fortalecimento de uma agenda de austeridade, reformas e ajustes estruturais de retração do Estado para a recomposição e compensação dos prejuízos amargados, o que, invariavelmente, vem acompanhado de um discurso de modernização do Estado, com potencial de inovação, liberdade e diretrizes de eficiência administrativa. Atrás da fachada democrática e de inovações econômicas, sociais e institucionais há o reforço de um histórico de desigualdade e violência, com o aumento da vulnerabilidade, iniquidade e fratura social, e onde o direito se torna mais um dos instrumentos de concretização do neoliberalismo e das desigualdades historicamente construídas e sistematicamente firmadas no Brasil. Vê-se, portanto, no Brasil, o avanço do retrocesso, com a degradação das condições de trabalho e a retirada de direitos trabalhistas, inscrevendo-se no processo de profunda ruptura civilizatória em que a democracia como igualdade e autonomia submergem diante da versão da barbárie de uma “democracia” como riqueza sem limite e poder sem constrangimento de afronta. P.S. Registramos com alegria a criação do Grupo de Pesquisa “Novas formas de trabalho, velhas práticas escravistas”, coordenado pelas Professoras Suzy Koury (Cesupa) e Valena Jacob (UFPA), com a colaboração do pesquisador Prudêncio Neto (UFPA). Uma pauta de pesquisa tão necessária quanto urgente em tempos de precarização das relações de trabalho que nos remete ao autoritarismo instituído pela escravidão, o qual tratamos de reproduzir contemporaneamente. Para mais informações: gpnovasformasdetrabalho@gmail.com. #redebrasileirademulheresfilosofas #filosofasOrg #filosofaemquarentena #avançodoretrocesso #precarizaçãodotrabalho REFERÊNCIAS DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A Nova Razão do Mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal. Tradução de Mariana Echalar. 1ª ed. São Paulo: Boitempo, 2016. FOUCAULT, Michel. Nascimento da biopolítica: curso dado no Collège de France (1978-1979). Tradução Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2008. FOUCAULT, Michel. Em defesa da sociedade: curso no Collège de France (1975-1976). Tradução Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 1999. LEMKE, Thomas. Foucault, governamentalidade e crítica. Tradução de Eduardo Altheman Camargo Santos. PLURAL, Revista do Programa de Pós‑Graduação em Sociologia da USP, São Paulo, v. 24.1, 2017, p. 194‑213. SANTOS, Wanderley Guilherme. A Democracia impedida. O Brasil no século XXI. Rio de Janeiro: FGV, 2017. SCHWARCS, Lilia. 100 dias que mudaram o mundo. Entrevista publicada no Universa, em 5 de abril de 2020.

  • Filosofia e Pandemia

    Recentemente o jornal Folha de SP publicou uma matéria para informar o público a respeito do que “os grandes filósofos estão dizendo sobre o coronavírus”. Filipe Campelo, professor da UFPE, reagiu à seleção de nomes, reclamando, com toda razão, da ausência de brasileiros na lista, sinal de uma “injustiça epistêmica”. Estou plenamente de acordo com ele. Contudo, eu não rechaço apenas o protagonismo majoritariamente europeu/norteamericano, mas também o enorme desequilíbrio de gênero e de raça reiterado pela lista: dos 16 nomes citados, apenas duas mulheres – Naomi Klein e Judith Butler – além de Paul Preciado, nenhuma negra. Se há uma “injustiça epistêmica”, nas palavras de Filipe Campelo, ela é mais perversa do que parece à primeira vista e também se nos contentarmos em denunciar a ausência de “brasileiros”. Nesta entrevista para o Caio Souto no programa “Conversações Filosóficas", eu aceito o debate proposto pelo Filipe e sugiro que sejamos ainda mais ousados no enfrentamento do problema, afinal, os discursos autorizados e valorizados na área de filosofia continuam sendo proferidos por vozes que falam, via de regra, de um mesmo lugar social. Não basta nos propormos a intensificar a conversa filosófica com nossos pares brasileiros e a falar para fora dos muros da universidade se isso não vier acompanhado de um compromisso inadiável com a ampla democratização da produção de conhecimento filosófico no Brasil, em termos de raça, gênero, sexualidade, classe, etnia. Uma área do conhecimento só pode ser potente, falar com riqueza para dentro e para fora sobre os assuntos do nosso tempo, que é o tempo da pandemia, se comportar diversidade de perspectivas e de sujeitos do conhecimento: temos ainda que enfrentar isso no Brasil e a boa notícia é que estamos enfrentando. A Rede Brasileira de Mulheres Filósofas é um sinal disso, mas nós temos um longo e tenso caminho pela frente. Referências: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/2020/04/saiba-o-que-os-grandes-filosofos-estao-dizendo-sobre-coronavirus.shtml Entrevista com Filipe Campelo https://youtu.be/PUcMH_pJ-2Q https://www.youtube.com/watch?v=ka0vvvW561U&feature=share&fbclid=IwAR197vDe1_VgUK-xsLIdt73_my_Zc4cuCIei-cSKWRY2PqIPPB7o_r1A1QU

  • Alteridade e a ética da responsabilidade em tempos de pandemia

    Suellen Lima de Brito Aluna bolsista do Mestrado em Filosofia na Universidade Federal do Pará (UFPA). Integrante do Grupo de Pesquisa (CNPq): Filosofia Prática: Investigações em Política, Ética e Direito. Loiane Prado Verbicaro Professora da Faculdade de Filosofia e do Programa de Mestrado em Filosofia da Universidade Federal do Pará (UFPA). Líder do Grupo de Pesquisa (CNPq): Filosofia Prática: Investigações em Política, Ética e Direito. A pandemia tem nos permitido “um olhar no espelho” da nossa impotência, bem como das nossas mazelas e precariedades humanas; ou mesmo um autorretrato (autocompreensão) de quem somos enquanto indivíduos e coletividade; de quais são as nossas prioridades e valores; do sentido que atribuímos à nossa existência; das nossas vulnerabilidades e altivez frente à vida, aos seus dissabores e acontecimentos malsãos; do apreço e desapreço pelo ethos comunitário; da nossa frágil e altaneira empatia, compaixão, solidariedade e generosidade desinteressadas. Considerando que é na escassez e na fronteira do sombrio que os problemas éticos regressam com intensidade, refletiremos hoje sobre a alteridade e a ética da responsabilidade em tempos de pandemia, a partir do pensamento dos filósofos Emmanuel Levinás e Martin Buber. Com a pandemia do novo coronavírus e sua crise sanitária, a sociedade teve que se reeducar de distintas maneiras para impedir o contágio da doença, além de passar a conviver com o isolamento social onde o contato físico é censurado e o medo como emoção política implementado. Diversas cidades do país, em maior ou menor grau, estão realizando medidas de proteção para o combate ao vírus e, segundos os especialistas e profissionais da saúde que estão na linha de frente do combate à doença, é praticamente unânime a recomendação sobre a importância do isolamento social e das medidas de higiene básicas, resultando também em campanhas para conscientização acerca do cuidado com a sua própria vida (biológica) e a vida do outro, em um pacto de coletividade e solidariedade. Contudo, observa-se parte significativa da população desdenhando e mesmo descumprindo tais medidas de proteção, não porque não tenha alternativa – e são muitos nessa situação –, mas, em muitos casos, voluntariamente, talvez em razão de uma postura temerária e negacionista ao perigo do vírus que tem matado tantas pessoas no mundo; ou mesmo em razão da crença em fórmulas mágicas ou soluções messiânicas sem comprovação em estudos científicos; ou ainda por priorizar as razões de mercado, seguindo os arautos da racionalidade econômica que têm defendido que “pior que o medo da epidemia deve ser o medo do desemprego”, afinal, a engrenagem não pode parar, ainda que custe a vida de milhares de indivíduos. Nesse caso, a vida humana é instrumentalizada pelo mercado, minimizada e vista como o suprimento “descartável para que o processo de acumulação e concentração não pare”. Trata-se de um Estado suicidário, como aquele que flerta com a sua própria destruição (Safatle, 2020), constituindo essa realidade como um novo estágio nos modelos de gestão do neoliberalismo como sistema que maximiza a importância do mercado e dos imperativos de eficiência em detrimento do ser humano. O pior é quando essas atitudes de negligência e descaso veem de líderes políticos a quem compete à condução responsável da nação de modo a proteger a vida como valor fulcral. É o que tem ocorrido no Brasil, em que o Presidente da República, reiteradamente, demonstra o seu pouco caso para com os riscos à vida provocados pelo novo coronavírus, ao enfatizar a necessidade de retorno às atividades econômicas e escolares, bem como criticar os governadores dos Estados que estabelecem medidas de isolamento social recomendadas por autoridades científicas. Em razão da condução negligente do Chefe do Executivo – tanto pelo seu discurso como por participar e promover aglomerações –, a Associação Brasileira de Juristas para a Democracia denunciou-o ao Tribunal Penal Internacional por crime contra a humanidade, considerando sua política de governo em descompasso à compreensão da importância da ciência e da ética da responsabilidade em tempos de crise pandêmica e humanitária. Ainda que se considere o impacto econômico e social provocado pela paralisação da atividade produtiva e comercial e que a vida também dependa da dinâmica de produção e comercialização para a geração de emprego e renda, a proteção imediata e incondicional à vida humana deve ser a prioridade sobre qualquer outro objetivo econômico ou político. Nenhum governante decente pode colocar a vida em risco para proteger o produto interno bruto (PIB). Só os torpes o fazem! Trata-se de um imperativo ético e humano que não se curva a qualquer consequencialismo, a cálculos de custo e benefício ou relativizações de quaisquer espécies. Segundo Emmanuel Lévinas (1906–1995), a ética da responsabilidade direciona-se à compreensão de que somos responsáveis uns pelos outros, que a relação com o próximo, com o seu bem estar é de nossa inteira responsabilidade, em outras palavras, nossa responsabilidade com a vivência do outro é total, indeclinável e intransferível. À medida que negligenciamos o cuidado ao outro estamos – eticamente – agindo mal, em falta com a nossa posição de responsabilidade e boa vivência em relação ao outro. Portanto, toda relação pressupõe uma dimensão ética a partir da compreensão de que o outro é nossa responsabilidade. A partir disso e considerando o momento de crise sanitária com a pandemia do novo coronavírus, atos de descaso para com a saúde e o bem estar do outro, a partir da prioridade às razões de mercado, ferem a ética levinasiana e a noção de alteridade, pois ao negar os cuidados necessários próprios para com o outro, nega-se concomitantemente a responsabilidade que temos com aquela vivência, agindo de maneira egoísta ao banalizar sua existência. Nesse sentido, o nosso cuidado com o outro e com nós mesmos e a partir da nossa obediência às medidas de proteção, reavive a relação de alteridade da vivência ética. É o sentido humanista mais puro que se preocupa acima de tudo com a condição humana. Por conseguinte, para Martin Buber (1878-1965), o diálogo e o respeito à vivência do outro é o que nos torna humanos e que nos permitirá uma boa vivência em sociedade. O mundo é duplo para o homem, ele vive em dualidades, entre duas relações: O Eu-Tu e o Eu-Isso como palavras-princípios. O Eu-Tu como uma relação dialógica, encontro entre dois parceiros mutualmente, em totalidade e o Eu-Isso como um relacionamento monológico, experiência, utilização ou uso. Essas palavras-princípios fazem parte da vida dos indivíduos, de suas relações, elas são “[…] duas intencionalidades dinâmicas que instauram uma direção entre dois pólos, entre duas consciências vividas” (Von Zuben, 2001, p. 28), ou seja, elas estão inseridas em nós, por isso o mundo é duplo para os homens, ele pode proferir as palavras-princípios na sua vida de acordo com a sua vivência, com a relação que ele quer estabelecer. O que tem ocorrido nesse momento de grave crise pandêmica é que os indivíduos são coisificados, tratados a partir de relações objetificantes do mundo do Isso, com o descaso perante a vida do outro, banalizando sua existência e transformando a morte em mera estatística. Pessoas mortas viram números. Mas perdemos vidas. Não números. Ademais, nesse sentido, importante registrar um profundo repúdio à fala do novo Ministro (empresário) da Saúde que, em um vídeo tratando de eventual necessidade de escolha, pelos médicos, entre a vida de um idoso e de um jovem, afirma que a decisão deveria ser pensada a partir do seu impacto financeiro (critério utilitário), acenando à uma inadmissível hierarquização do valor da vida e a uma profunda insensibilidade e despreparo para lidar com a dimensão ética da existência. E nesse ponto, resgatamos o pensamento de Buber que apresenta a potencialidade do respeito ao outro a partir da interação dialógica da relação Eu-Tu. A atual crise que estamos vivendo é avassaladora, uma crise marcada pela tragédia de milhões de mortes e um inimigo invisível e impiedoso, com impactos assimétricos especialmente aos grupos mais vulneráveis. É um momento de ressignificação de muitos dos nossos valores e, em especial, a ideologia contemporânea do “eu primeiro”. (Badiou, 2020). Nessa ideologia, preocupações com o “bem comum” e com o outro em sua dimensão ética são substituídas por uma gramática individualista, com posturas apáticas, hedonistas e narcisistas, com o estímulo do “cada um por si” e a identificação da felicidade a partir do consumo, como argumenta Lipovetsky (2015), em “O Império do Espetáculo e do Divertimento”, por meio de um processo de individualização e atomização das relações sociais, em detrimento da alteridade, da solidariedade e de projetos coletivos. Vê-se o desaparecimento do cuidado com o outro diante da exaltação e da ditadura do eu como subjetivação que nega o comum ou preocupações para além daquelas inerentes ao próprio desempenho, à produtividade e à competitividade. Diante do padecimento do comum, do valor da alteridade e da ética da responsabilidade e do cuidado com o outro a partir da relação Eu-Tu, necessitamos fazer um trabalho de resgate e de construção de um projeto de humanidade e de uma generosa solidariedade internacional (frente à persistente tentação do entrincheiramento egoístico de nacionalismos que se renovam na história), nos quais sejamos responsáveis uns pelos outros. É dessa missão que se encarregam as ideias de Levinás e Buber, ao reagirem à descartabilidade humana, à ênfase à objetificação, instrumentalização e minimização da vida conduzida pela racionalidade econômica, para demonstrar o quanto somos ligados uns aos outros, do quanto precisamos de uma vivência dialógica baseada na alteridade e na responsabilidade recíproca e do quanto necessitamos viver bem em uma relação ética saudável, afinal, “somos olas del mismo mar, hojas del mismo árbol, flores del mismo jardín”. #redebrasileirademulheresfilosofas #filosofasOrg #filosofaemquarentena #alteridade #éticadaresponsabilidade Referências BADIOU, Alain. La situación epidémica. In: Sopa de Wuhan: Pensamiento Contemporáneo en Tiempos de Pandemias. Buenos Aires: Pablo Amadeu Editor. Editorial ASPO, 2020. BONAMIGO, Gilmar Francisco. O Problema do Humano em Emmanuel Lévinas. Revista “O que nos faz pensar”. Cadernos do Departamento de Filosofia da PUC- Rio, v. 25, n. 38, p. 1-21, 2016. BUBER, Martin. Eu e Tu. São Paulo: Centauro, 2001. LÉVINAS, Emmanuel. Entre Nós: Ensaios Sobre a Alteridade. Petrópolis: RJ: Vozes, 1997. LÉVINAS, Emmanuel. Ética e infinito. Lisboa: Edições 70, 1998. LÉVINAS, Emmanuel. Humanismo do outro homem. Petropólis: Vozes, 1993. LIPOVETSKY, Gilles. O Império do Espetáculo e do Divertimento. In: LIPOVETSKY, Gilles; SERROY, Jean. a Estetização do Mundo: Viver na Era do Capitalismo Artista. São Paulo: Companhia das Letras, 2015. RIBEIRO, Martins Luciane. A Subjetividade e o outro: ética da responsabilidade em Emmanuel Levinás. São Paulo: Ideias & Letras, 2015. SAFATLE, Vladimir. Bem-vindo ao Estado Suicidário. In: O Jornal de Todos os Brasis. Publicado na Edição de 25 de março de 2020.

  • Filósofas UFT: Mulheres como eixo

    Sexta-feira, 1o de maio, às 19:00hs. Participe! Atenção para os procedimentos de inscrição abaixo. Para confirmar sua presença e receber seu certificado de participação, acesse o link e garanta sua vaga: https://palmas.uft.edu.br/sisma/plataformaevento/atividades-academicas-do-campus-de-palmas-2020-1 Quem não é aluno da UFT, deve cadastrar-se em "comunidade em geral": vá ate a aba "humanas, artes e licenciaturas" no link a cima,  role a barra até o evento FILÓSOFAS - MULHERES COMO EIXO e click em "participar". Será enviada confirmação por e-mail. A participação na live é limitada, mas não se preocupe, depois disponibilizaremos a live no IGTV e no youtube. #redebrasileirademulheresfilosofas #filosofasOrg #filosofas.brasil #filosofasuft #uft #mulherescomoeixo

  • Feminismo Marxista por Rita Machado: segunda aula do curso online de Introdução ao Feminismo

    Assista aqui. Rita Machado trata de conceitos básicos do marxismos, de seus aportes teóricos à teoria feminista e do pensamento de algumas das mais importantes feministas marxistas. Essa é a segunda aula do curso online de Introdução ao Feminismo oferecido pela Rede Brasileira de Mulheres Filósofas sob a organização da própria Rita Machado (UEA). Veja o programa de curso e a bibliografia em www.filosofas.org/cursofeminismo Rita de Cássia Fraga Machado é feminista, professora na Universidade do Estado do Amazonas, pesquisadora associada à ANPOF (Associação Brasileira de Pós-Graduação em Filosofia) e compõe o núcleo estruturante do GT de Filosofia e Gênero. É Militante da Marcha Mundial das Mulheres Brasil. Tem diversas produções nos Estudos Feministas. Lattes: http://lattes.cnpq.br/8882999172098781 https://youtu.be/Sl_PTr_Godk Assista a aula aqui. #redebrasileirademulheresfilosofas #filosofasOrg #filosofasbrasil #introducaoaofeminismo #feminismomarxista #ritamachado

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